4.10.18

MORO E GLOBO PUSERAM HADDAD NO SEGUNDO TURNO

JOSÉ CARLOS DE ASSIS -


O movimento dialético não se aplica apenas aos grandes ciclos históricos. Em “18 Brumário de Luís Bonaparte”, Karl Marx deu uma fantástica lição de análise política a partir de conceitos dialéticos. No caso brasileiro atual, vemos a dialética operar em ciclos ainda mais curtos, agora de forma ultra-surpreendente, pois é um ciclo de não mais que uma semana. O ataque do juiz Moro e do sistema Globo a Lula e, indiretamente, a Haddad foi um golpe dialético que, com toda a probabilidade, voltou-se contra os atacantes e favoreceu as vítimas.

Tenho procurado me manter numa posição rigorosamente analítica em relação ao quadro eleitoral. É que tomar partido nem sempre ajuda no processo de compreensão dos eleitores. Quando “Veja” atacou a família de Bolsonaro sustentei que o resultado poderia ser o oposto do pretendido pela revista. Na verdade, tal como eu previra, Bolsonaro disparou nas pesquisas. Agora ocorre uma situação oposta. O ataque combinado do juiz e da Globo faz com que muita gente antes desfavorável a Haddad acabe tomando o partido dele.

Isso é uma espécie de defesa do organismo social contra a manipulação da notícia pelos grandes órgãos de comunicação. Além disso, ninguém gosta de “covardia”. A reportagem da Globo combinada com o ataque do juiz a Lula é uma espécie de uso desproporcional do poder, quando se tenta reduzir a zero qualquer possibilidade de reação da vítima. O público costuma dizer: “Não gosto de chutar gato morto”. Para muitos, Lula se tornou um gato morto que não vale a pena continuar chutando.

Em termos dialéticos, a ciência política e mesmo a filosofia política não tem qualquer dificuldade em explicar o processo político de curto prazo. Estamos falando sobre milhões de pessoas e, nesse caso, os manipuladores de opinião não tem como influir especificamente neste ou naquele caso. A cada ação social corresponde uma reação, e quando à primeira ação corresponde uma reação violenta, em sentido contrário, a sociedade busca níveis superiores de ação que correspondam ao que, em dialética, resulta numa nova síntese política.

Aprendi uma lição dialética ainda muito jovem, indo de ônibus para o jornal onde trabalhava no Rio. Estava em pé em minha frente, junto ao motorista, um negro alto com o falecido jornal “Última Hora” na mão. A manchete dizia alguma coisa como os Estados Unidos tendo matado mais de 200 vietcongues em guerra. “É bem capaz”, disse o negro para o motorista. “Se isso fosse verdade já haviam acabado com a guerra”. Na percepção dele, aquilo não passava de guerra de propaganda, e provavelmente ele estava certo.

Colocado em termos mais simples, o que se constata, no processo histórico, é um avanço permanente da sociedade em busca de formas superiores de realização social e política, embora eventualmente sujeitas a regressões, como o nazi-fascismo. Há riscos, naturalmente. E um desses riscos é a usurpação por uma das instituições da sociedade, como o Judiciário, de prerrogativas que pertencem às demais. Temos visto isso, desgraçadamente. Mas, contra os excessos, é possível que o povo vai se manifestar de forma apropriada nas eleições.