ROGER MCNAUGHT -
Há alguns anos uma forma peculiar de lidar com a gestão da
educação pública vem tirando o sono de estudantes, professores e de pessoas
preocupadas com o futuro de nossos jovens. Não bastasse toda a falta de investimentos, sucateamento das redes de
ensino públicas e a constante violência que adentra o perímetro escolar, agora
aumenta de forma alarmante o número de unidades de ensino geridas por militares
no país, que aumentou cerca de 212% nos últimos 5 anos.
Com disciplina exacerbada para a finalidade educacional,
tais escolas vem se destacando pela total aniquilação da liberdade crítica
democrática. Em Goiás, onde há cerca de
46 escolas sob administração da Polícia Militar, há inclusive cobrança de taxas
a despeito de manifestação contrária do Ministério Público sobre cobranças na
rede pública sob administração da PM.
Crianças são coagidas a inspecionar colegas, uma hierarquia
militarizada foi criada entre estudantes, o código de uniformes é militarizado
– regulamentando até mesmo o uso de óculos de grau em cores/estilos permitidos
ou não. Associações estudantis, grêmios
e qualquer participação política é expressamente proibida sob pena de expulsão
sumária. Qualquer forma de interação entre estudantes que denote envolvimento
sentimental como abraços ou até mesmo a frequência em bares fora do horário
escolar pode acarretar em punições gravíssimas. O menor sinal de descuido com o uniforme é
motivo para penalidades e o espaço se assemelha a qualquer instalação militar –
menos uma unidade de ensino.
Em vez de “salas de aula” ou “corredores”, as instituições
possuem “alas” e “pavilhões” como em um presídio militar. Os professores civis que permaneceram também
são normatizados dentro de regras que impedem qualquer liberdade de cátedra,
havendo circuito interno de TV monitorando todos os ambientes das
instituições. Na prática, essa mudança
no paradigma educacional em unidades de ensino da rede pública não passa da
implementação forçada do famigerado “escola sem partido”, uma vez que pelas
vias institucionais tradicionais não está conseguindo ser aprovado e
implementado.
A mera presença de militares em salas de aula já se mostrou
inadequada devido à quantidade de ocorrências de violência como a que fora
relatada em 2017 em uma escola de Maceió onde um policial militar ataca
fisicamente um estudante no pescoço dentro de sala de aula (vídeo). Vale ressaltar que independentemente da
situação, a legislação não permite punições físicas e que no vídeo em questão o
estudante atacado encontrava-se sentado e não aparentava ser uma ameaça à
integridade física do policial para justificar tal agressividade. Não podemos naturalizar o abuso de poder
policial ou mesmo dar-lhes carta branca para destruir as próximas gerações.
Se você, pai ou mãe, está disposto a destruir as liberdades
constitucionais de seus filhos em troca de uma falsa sensação de segurança,
saiba que está se portando de forma tão cruel e destrutiva como qualquer
criminoso que destrói a juventude, e ainda se orgulha disso. Pense nisso, não podemos condenar a juventude
à servidão, censura, tortura e obediência cega.
Diga NÃO ao “escola sem partido”, à
militarização da educação, e a outras formas de supressão de opiniões divergentes. O direito à organização política e o direito
ao contraditório nos custaram muito caro e não podemos jogar uma conquista tão
frágil pela privada.