Por MILLÔR FERNANDES -
(Pif-Paf, 1948)
Como será o Brasil
no ano dois mil?
As crianças de hoje,
já velhinhas de então,
lembrarão com saudade
deste antigo país,
desta velha cidade?
Que emoção, que saudade,
terá a juventude
acabada a gravidade?
Respeitarão os papais
cheios de mocidade?
Que diferença haverá
entre o avô e o neto?
Que novas relações e enganos
inventarão entre si
os seres desumanos?
Que lei impedirá,
libertada a molécula
que o homem,cheio de ardor,
atravesse paredes,
buscando seu amor?
Que lei de trafego impedirá um
inquilino
-ante o lugar que vence-
de voar para lugar distante
na casa que não lhe pertence?
Haverá mais lagrimas ou mais sorrisos?
Mais loucura ou mais juízo?
E o que será loucura,
o que será juízo?
A propriedade será um roubo?
O roubo, o que será?
Poderemos crescer todos bonitos?
E o belo não passará a ser feiúra?
Haverá entre os povos uma
proibição
de criar pessoas com mais de um metro e
oitenta?
Mas a Rússia, (vá lá, os Estados
Unidos)
não farão,ás ocultas, homens especiais,
que, de repente,
possam duplicar o próprio tamanho?
Quem moraria no Brasil,
no ano dois mil?
Que pensará o imbecil?
no ano dois mil?
Haverá imbecil?
Militares ou civis?
Que restará a sonhar
para o ano três mil,
no ano dois mil? será?
* Enviado por Marcelo Ribeiro - Rio de Janeiro (RJ)