13.6.18

SAUDAÇÃO AOS QUE VÃO FICAR

Por MILLÔR FERNANDES -
(Pif-Paf, 1948)


Como será o Brasil
no ano dois mil?
As crianças de hoje,
já velhinhas de então,
lembrarão com saudade
deste antigo país,
desta velha cidade?

Que emoção, que saudade,
terá a juventude
acabada a gravidade?
Respeitarão os papais
cheios de mocidade?
Que diferença haverá
entre o avô e o neto?

Que novas relações e enganos
inventarão entre si
os seres desumanos?
Que lei impedirá,
libertada a molécula
que o homem,cheio de ardor,
atravesse paredes,
buscando seu amor?

Que lei de trafego impedirá um inquilino
-ante o lugar que vence-
de voar para lugar distante
na casa que não lhe pertence?
Haverá mais lagrimas ou mais sorrisos?
Mais loucura ou mais juízo?
E o que será loucura,
o que será juízo?

A propriedade será um roubo?
O roubo, o que será?
Poderemos crescer todos bonitos?
E o belo não passará a ser feiúra?
Haverá  entre os povos uma proibição
de criar pessoas com mais de um metro e oitenta?
Mas a Rússia, (vá lá, os Estados Unidos)
não farão,ás ocultas, homens especiais,
que, de repente,
possam duplicar o próprio tamanho?

Quem moraria no Brasil,
no ano dois mil?
Que pensará o imbecil?
no ano dois mil?
Haverá  imbecil?
Militares ou civis?
Que restará a sonhar
para o ano três mil,
no ano dois mil? será?

* Enviado por Marcelo Ribeiro - Rio de Janeiro (RJ)