3.8.17

LEIAM MACUMBA

LUIZ ANTONIO SIMAS -


As amizades já ouviram falar que macumba é um instrumento africano de percussão e macumbeiro é quem toca macumba? E já ouviram falar que macumba também é uma expressão que designa um conjunto de ritos religiosos e macumbeiro é quem segue estes ritos?

É isso aí: macumba pode designar um instrumento e pode designar também um conjunto de rituais religiosos que bebem na fonte dos complexos culturais bantos.

O instrumento macumba designa uma espécie de reco-reco que se tocava com duas varetas, uma fazendo o grave e outra o agudo. O termo tem provável origem no quimbundo "mukumbu"; que significa som. Foi relativamente popular na época dos pioneiros do samba e eu nunca vi um.

Já macumba como expressão que designa cultos afro-brasileiros (é neste sentido que utilizo) e coisas que o envolvem, gera bons debates. Antenor Nascentes segue Raymundo Jacques (autor da obra de referência "O elemento afro-negro na língua portuguesa", 1933), e acha que vem do quimbundo "dikumba" - cadeado ou fechadura - referindo-se a cerimônias secretas de fechamento dos corpos. Nei Lopes - profundo conhecedor do assunto - acha que vem do quicongo "kumba"; feiticeiro (o prefixo "ma", no quicongo, forma o plural). Outros estudos indicam que a origem é mesmo essa, como menciona Robert Slenes em seu estudo sobre o jongo.

Daí a expressão macumba designar tanto uma espécie de reco-reco como as cerimônias. A etimologia, porém, é distinta nos dois casos: uma deriva do quimbundo e outra do quicongo.

E por falar nisso, Macumba também é um ótimo romance do Rodrigo Santos que, por questão de tempo, só li recentemente, recomendado pelo Ecio Salles. Deveria ter lido antes. É trama policial envolvente, com referências sobre as religiosidades brasileiras afro-ameríndias bem fundamentadas (sem didatismos chatos), que traça um retrato contundente de uma periferia do Rio de Janeiro dilacerada pela violência e, ao mesmo tempo, extremamente criativa.

Fica a sugestão: leiam Macumba. (via facebook)