JOSÉ CARLOS DE ASSIS -
Não há quem, no Brasil e no mundo, não tenha se emocionado com a tragédia que vitimou na Colômbia o time de Chapecó. Teve todos os elementos para isso: um time pequeno, mas já vitorioso, desaparece de um golpe; um símbolo da garra no esporte perde numa luta desigual com a morte; uma equipe constituída principalmente de jovens desaparece. Tudo isso colaborou para a emoção que sacudiu o Brasil, a Colômbia e o mundo. Mas justifica-se tornar tudo isso uma presa da mídia espetaculosa?
Pensei muito a respeito e cheguei a conclusão que sim, vale a pena. Por um momento, no meio da cobertura massacrante e interesseira da Globo, foi possível vislumbrar a extrema capacidade do povo, daqui e lá de fora, de adotar gestos de solidariedade, fraternidade e amor mesmo entre diferentes. Esse desastre, de certa forma, foi uma metáfora do destino que a sociedade brasileira pode ter no momento histórico peculiar que está vivendo. Somos, hoje, a imagem da discórdia e da ambição. A morte trágica dos chapecoenses lembra o imperativo de um caminho alternativo.
Não gosto de usar a palavra conciliação. Foi o conceito chave dos governos Lula e, ao final, o sistema correspondente fracassou. Gosto de contrato ou, pela consagração histórica, de pacto social. Significa um entendimento de vontades livres entre segmentos diferentes da sociedade, mesmo os diferenciados por classes sociais, em torno de interesses fundamentais recíprocos. Isso pode se dar tanto num sistema republicano que limite o individualismo, ou num sistema democrático que contenha a socialização radical dos meios de produção.
A lição da tragédia dos chapecoenses talvez nos possa levar, fora do espetáculo midiático, e numa atmosfera de reflexão, a que se encontre no Congresso Nacional, mesmo com suas notórias deficiências, uma solução consensual e legal para a crise brasileira, articulada entre diferentes em nome de um interesse comum pela vida. Não faz sentido seguir a onda da grande mídia e acabar de desestruturar as instituições republicanas, já suficientemente derretidas. Temos que ser tolerantes com os diferentes, inclusive os diferentes quanto à concepção e a ação, desde que tenham tido “boa intenção”, como querem o juiz Sérgio Moro e os procuradores da Lava Jato.
Sabemos que vem por aí, no rastro da delação da Odebrecht, uma bateria de novos e antigos congressistas indigitados ou denunciados por corrupção. Que se deixe seguir a marcha da justiça. Mas que o poderoso braço persecutório de promotores e juízes não tenha, como afirma o senador Roberto Requião, “indulgência plenária” para fazer o que querem. É essencial que se restaure no Brasil a plena vigência dos princípios de habeas corpus, presunção de inocência e devido processo legal. Fora disso é ditadura judicial, a pior das ditaduras. O que contraria frontalmente o que poderíamos chamar de “espírito de Chapecó”.
Aqueles que viram o show midiático de Chapecó, que prestem atenção: ou caminhamos para um pacto social, no qual se inserem os princípios de justiça, mas também os de solidariedade e amor, exibidos na tragédia, ou naufragaremos todos numa situação de convulsão social e de guerra civil. O combate à corrupção é fundamental. No Brasil, principalmente, ele se contrapõe a atitude seculares de nossas elites. Mas não vale a pena, em nome do combate à corrupção com meios ditatoriais, liquidar com a economia, fazer exacerbar o desemprego e destruir milhares de empresas grandes e pequenas!