7.8.16

UM PRESIDENTE APAGADO E QUASE MUDO

CARLOS CHAGAS -


Nitidamente constrangido pelas vaias que recebeu, antes mesmo delas terem começado, Michel Temer demonstrou na abertura das Olimpíadas, sexta-feira, faltarem-lhe condições para enfrentar uma crise de verdade. Não terá dificuldades se no palácio do Planalto continuar  recebendo a rejeição de parte da população, frente ao aumento do desemprego, quem sabe  o mau funcionamento dos serviços públicos e a falência da educação e da saúde públicas. Para esses desafios, fechado em seu gabinete, ele está preparado.

O diabo é se um inusitado qualquer ressuscitar explosões populares generalizadas, se um de nossos vizinhos entender avançar sobre o território nacional ou se nossas forças de segurança negarem-se a sair dos quartéis diante de rebeliões profundas.   São apenas três exemplos, entre muitos, de verdadeiras crises. Disporá o presidente interino de coragem e força para agir segundo necessidades imprevistas?

Pode ser que não. Nesse caso, o país ficará desamparado, órfão, solto no espaço sem encontrar quem o represente e  defenda.  Porque o presidente interino em vias de  tornar-se definitivo parece em condições de cumprir tarefas rotineiras, mas não desafios extemporâneos. Diante da multidão hostil, que aliás não significava qualquer surpresa para ele, encolheu-se. Aceitou a sugestão de não ser anunciado nos microfones por algum locutor entusiasmado. Pediu que as câmeras de televisão não o focalizassem. Declinou de endereçar à multidão ordeira uma mensagem que fosse de confiança e elogio à festa tão bem organizada. Cedeu o lugar que teria de ser dele a Carlos Arthur Nuzman e a um alemão poliglota e desinibido.

A gente fica pensando como se comportariam Juscelino Kubitschek e qualquer outro de seus sucessores. Os 50 mil participantes estavam ali para  uma comemoração festiva. Claro que demonstraram, mas até educadamente, sua contrariedade frente a um governante que não elegeram. Mas foram apupos singelos, sem criar qualquer clima de beligerância. Por que não enfrentá-los? Ou aproveitar a oportunidade para mostrar-se, aceitando a reação popular e dirigindo palavras de ânimo e compreensão? Talvez melhorasse sua imagem. Mostrar-se acuado e quase mudo,  porém, foi sua pior decisão. Até porque, as Olimpíadas já estavam abertas antes de uma declaração meteórica e claudicante.