ROGER MCNAUGHT -
Em
tempos de intolerância, onde setores da sociedade acreditam que ganharão no
grito e violência, basta percorrer as comunidades do nosso estado para vermos
que as raízes da união, ancestralidade e amor ao próximo resistem à passagem do
tempo.
Em
um domingo de calor, uma visita ao barracão de candomblé “Ile Òsúm àtí Òsòsí”,
localizado no município de São Gonçalo, se mostrou algo não apenas revigorante
como também uma aula sobre a história das comunidades do estado do Rio de
Janeiro.
Após
uma recepção extremamente amistosa, uma conversa enriquecedora sobre a história
da já falecida fundadora do barracão, Dona Alice, se confunde facilmente com a
história da comunidade em si. Seus filhos e netos, dentre os mesmos a atual
matriarca do barracão, contaram como uma lutadora, mãe de vários filhos (alguns
biológicos, outros por afinidade religiosa e ainda outros da própria comunidade)
se estabeleceu não apenas como uma figura de caráter cultural e religioso, mas
também comunitário como matriarca, conselheira, e até mesmo parteira.
O
barracão, simples porém rico em detalhes de ornamentação, não escondia o
orgulho de cada um dos presentes em fazer parte dessa história que está longe
de acabar, pois os sinais de individualismo e segregação não chegaram por lá –
e se depender daquela comunidade jamais chegarão.
Com
muito bom humor e sempre um sorriso acompanhando uma boa passagem histórica
local, cada um dos presentes contou com detalhes cada situação inusitada onde
aquele centro religioso serviu de amparo a vizinhos, amigos, familiares e
pessoas das redondezas. Tudo isso sempre com aquele bom jeitinho de ser, sempre
preocupados se as visitas estavam confortáveis e se precisavam de algo.
Ao
final da conversa, um convite para almoçar com eles. Todos à mesma mesa, com
alegria, simplicidade e sem rodeios, comida boa e mais histórias
enriquecedoras, o que acabou levando à curiosidade sobre a ornamentação, algo
chamativo desde o primeiro momento. Eis mais uma surpresa, pois um dos itens de
ornamentação por si já carrega uma forte simbologia da importância feminina,
algo que tantos hoje esquecem ao praticarem violência contra a mulher.
A
sensação ao sair do local foi que saímos mais ricos em humanidade, conhecimento
e respeito às raízes.