8.9.15

INDEPENDÊNCIA OU MORTE

EMANUEL CANCELLA -

Queremos mais que nunca a independência! Não bastou ficar livre de Portugal, queremos expandir esse conceito internamente. Queremos a independência na justiça, no Ministério Público, na Polícia Federal e na procuradoria Geral da República.

É muito desgastante para nossas instituições atitudes como de um procurador “Engavetador Geral Da República”, Geraldo Brindeiro, o procurador do governo de Fernando Henrique Cardoso. Na ocasião também, a Polícia Federal era sucateada, sem renovação dos quadros, pois praticamente não havia concurso público, nem gasolina e nem carros para o trabalho diário, e os telefones eram cortados por falta de pagamento. Esse sucateamento se expandia para toda serviço público e estatal. Nessa situação, como exercer com independência as funções previstas na Constituição Federal?

Mas hoje, apesar da crise que tanto alardeia a grande mídia, a modernidade de nossas instituições salta aos olhos: juventude, modernidade, eficiência, etc. A polícia federal foi chamada para ajudar na prisão do maior traficante do Rio de Janeiro, o play boy, e deu fim à carreira do bandido.  Isso é credibilidade!

Agora atitudes como a do juiz que se apossou dos bens do Eike Batista; do juiz pego na “lei Seca” que quis dar uma carteirada e respondeu à funcionaria, que lhe dissera que ele não era Deus, com ameaças e recorrendo à justiça. Isso depõe contra nossas instituições. E o pior, a justiça mandou multar a funcionária.

Também não podemos nos esquecer do mensalão, AP 470, comandada pelo ministro do STF, Joaquim Barbosa, ajudado pelo juiz Sergio Moro, que denunciou e prendeu parlamentares do PT  e nem  sequer julgou o mensalão do PSDB, este anterior ao do PT, e os crimes estão prescrevendo e ninguém faz nada.

Aí chegamos ao Lava Jato, onde o juiz, Sérgio Moro chefia a investigação na Petrobrás. A sociedade, pela primeira vez, assiste a empresários dirigentes da estatal sendo presos, porém, apesar de citado por vários delatores, o governo de FHC na Petrobrás não é investigado. E novamente os parlamentares tucanos, apesar de citados na Lava Jato, estão livres leves e soltos. Como acreditar que nossa justiça quer acabar com a corrupção, se só pune alguns partidos?

E é alarmante, enquanto a operação lava Jato, há cerca de um ano e meio, fornece notícias negativas sobre a Petrobrás, na mídia, todo dia e a todo instante, assistimos à inércia ou a impunidade a escândalos muito maiores que o do petróleo! Enquanto, por exemplo, no lava Jato Lula e Dilma foram citados, com divulgação pela Veja e no Jornal Nacional, da Globo, de forma mentirosa, de que eram sabedores da corrupção na Petrobrás, o senador do PSB, Romário, o peixe, agora ensaboado, presidente da CPI da FIFA, não convoca a Globo, que foi monopolista das transmissões esportivas, o tempo todo, para depor na CPI?

A justiça mineira condena o tio do governador tucano Aécio Neves a pagar o dinheiro gasto no aeroporto de Claudio, só que com dinheiro público. Enquanto isso Aécio voa livre!

Em são Paulo, a investigação do Trensalão, escândalo do metrô de São Paulo, anda mais lento que carroça. Acontecido há mais de duas décadas, até agora só atingiu os executivos do metrô. Considerando a velocidade da apuração, quando chegar aos governos tucanos, principais responsáveis, a citação vai ser no mesmo local do governador Mário Covas, no cemitério!

O Swissleaks, lavagem de dinheiro no banco HSBC da Suíça, envolve as empresas de comunicação Globo, Estadão, Band, Folha e Veja,  principais empresas de comunicação do país. Dá até para entender que o escândalo não apareça na mídia, o tempo todo. Mas na justiça tem que parar também?

Temos o escândalo do Zelotes, cuja  investigação está zerada. Segundo matéria da revista Carta Capital, ele equivale a quatro vezes o valor envolvido no Petrolão. E com o agravante de que esse dinheiro da multa iria para a saúde e educação!

Lógico que a sociedade, mesma omissa ou enganada, responde a esses picaretas. Segundo pesquisa da CNT, só 13% da sociedade acredita na imprensa e 26% não acredita de jeito nenhum; e o PSDB, mesmo com apoio da Globo perdeu a quarta eleição para o PT. Isso não deixa de ser uma resposta da sociedade! O problema é que esses picaretas não desistem nunca e agora querem o poder, negado pelo voto, no golpe.

É preciso que nossas instituições, como Justiça, Ministério Público e Polícia Federal se posicionem contra os tribunais de exceção, como o mensalão e o Lava Jato, e que  exijam de seus membros a independência em relação a grupos, partidos ou governos. Nossa  independência de Portugal foi obra de um português, D. Pedro I. Será que vamos ter que buscar ajuda externa para que nossas instituições sejam independentes?

* Emanuel Cancella é coordenador do Sindicato dos Petroleiros do Estado do Rio de Janeiro (Sindipetro-RJ) e da Federação Nacional dos Petroleiros (FNP).