EMANUEL CANCELLA -
Queremos mais que nunca a independência! Não bastou ficar
livre de Portugal, queremos expandir esse conceito internamente. Queremos a
independência na justiça, no Ministério Público, na Polícia Federal e na
procuradoria Geral da República.
É muito desgastante para nossas instituições atitudes como de
um procurador “Engavetador Geral Da República”, Geraldo Brindeiro, o procurador
do governo de Fernando Henrique Cardoso. Na ocasião também, a Polícia Federal
era sucateada, sem renovação dos quadros, pois praticamente não havia concurso
público, nem gasolina e nem carros para o trabalho diário, e os telefones eram
cortados por falta de pagamento. Esse sucateamento se expandia para toda
serviço público e estatal. Nessa situação, como exercer com independência as
funções previstas na Constituição Federal?
Mas hoje, apesar da crise que tanto alardeia a grande mídia,
a modernidade de nossas instituições salta aos olhos: juventude, modernidade,
eficiência, etc. A polícia federal foi chamada para ajudar na prisão do maior
traficante do Rio de Janeiro, o play boy, e deu fim à carreira do
bandido. Isso é credibilidade!
Agora atitudes como a do juiz que se apossou dos bens do Eike
Batista; do juiz pego na “lei Seca” que quis dar uma carteirada e respondeu à
funcionaria, que lhe dissera que ele não era Deus, com ameaças e recorrendo à
justiça. Isso depõe contra nossas instituições. E o pior, a justiça mandou
multar a funcionária.
Também não podemos nos esquecer do mensalão, AP 470,
comandada pelo ministro do STF, Joaquim Barbosa, ajudado pelo juiz Sergio Moro,
que denunciou e prendeu parlamentares do PT e nem sequer julgou o
mensalão do PSDB, este anterior ao do PT, e os crimes estão prescrevendo e
ninguém faz nada.
Aí chegamos ao Lava Jato, onde o juiz, Sérgio Moro chefia a
investigação na Petrobrás. A sociedade, pela primeira vez, assiste a
empresários dirigentes da estatal sendo presos, porém, apesar de citado por
vários delatores, o governo de FHC na Petrobrás não é investigado. E novamente
os parlamentares tucanos, apesar de citados na Lava Jato, estão livres leves e
soltos. Como acreditar que nossa justiça quer acabar com a corrupção, se só
pune alguns partidos?
E é alarmante, enquanto a operação lava Jato, há cerca de um
ano e meio, fornece notícias negativas sobre a Petrobrás, na mídia, todo dia e
a todo instante, assistimos à inércia ou a impunidade a escândalos muito
maiores que o do petróleo! Enquanto, por exemplo, no lava Jato Lula e Dilma
foram citados, com divulgação pela Veja e no Jornal Nacional, da Globo, de
forma mentirosa, de que eram sabedores da corrupção na Petrobrás, o senador do
PSB, Romário, o peixe, agora ensaboado, presidente da CPI da FIFA, não convoca
a Globo, que foi monopolista das transmissões esportivas, o tempo todo, para
depor na CPI?
A justiça mineira condena o tio do governador tucano Aécio
Neves a pagar o dinheiro gasto no aeroporto de Claudio, só que com dinheiro
público. Enquanto isso Aécio voa livre!
Em são Paulo, a investigação do Trensalão, escândalo do metrô
de São Paulo, anda mais lento que carroça. Acontecido há mais de duas décadas,
até agora só atingiu os executivos do metrô. Considerando a velocidade da
apuração, quando chegar aos governos tucanos, principais responsáveis, a
citação vai ser no mesmo local do governador Mário Covas, no cemitério!
O Swissleaks, lavagem de dinheiro no banco HSBC da Suíça,
envolve as empresas de comunicação Globo, Estadão, Band, Folha e Veja,
principais empresas de comunicação do país. Dá até para entender que o
escândalo não apareça na mídia, o tempo todo. Mas na justiça tem que parar
também?
Temos o escândalo do Zelotes, cuja investigação está
zerada. Segundo matéria da revista Carta Capital, ele equivale a quatro vezes o
valor envolvido no Petrolão. E com o agravante de que esse dinheiro da multa
iria para a saúde e educação!
Lógico que a sociedade, mesma omissa ou enganada, responde a
esses picaretas. Segundo pesquisa da CNT, só 13% da sociedade acredita na
imprensa e 26% não acredita de jeito nenhum; e o PSDB, mesmo com apoio da Globo
perdeu a quarta eleição para o PT. Isso não deixa de ser uma resposta da
sociedade! O problema é que esses picaretas não desistem nunca e agora querem o
poder, negado pelo voto, no golpe.
É preciso que nossas instituições, como Justiça, Ministério
Público e Polícia Federal se posicionem contra os tribunais de exceção, como o
mensalão e o Lava Jato, e que exijam de seus membros a independência em
relação a grupos, partidos ou governos. Nossa independência de Portugal
foi obra de um português, D. Pedro I. Será que vamos ter que buscar ajuda
externa para que nossas instituições sejam independentes?
* Emanuel Cancella é coordenador do Sindicato dos Petroleiros
do Estado do Rio de Janeiro (Sindipetro-RJ) e da Federação Nacional dos
Petroleiros (FNP).