CARLA LESSA - Via Facebook da Tribuna da Imprensa online -
Não acredito nas mudanças promovidas à golpe de facão.
Um país que trata as suas crianças induzindo-as ao exemplo da delinquência, não tem moral para julgar ou se intitular patrono da boa conduta.
Vivemos uma crise e pasmem, vem sendo cultivada há anos com o consentimento das conveniências e circunstâncias. Não podemos apontar o dedo para a esquerda, sem observarmos a direita plantando as sementes. O fruto germinou, germinou por nossas escolhas também, quando ao elegermos os nossos governantes apontávamos com esperanças para aquelas lideranças consideradas ilesas de um gen nocivo. Acreditávamos que acima do bem e do mal havia homens neste país, competentes para lidar com o dever da coisa pública. Homens, Senhores, simplesmente homens que honrassem um papel civil mais elevado, menos opressivo e mais equilibrado.
Foi-se a ilusão de que ainda resistissem certos heróis e quanto àquelas deletérias figuras de estado, foi-se também a crença de que a democracia poderia afastá-los da possibilidade de se robustecerem. Em priscas épocas, o MDB surgia como sigla reparadora dos enunciados constituintes, mas também adquiriu um “p” a mais, se distanciando do foco e da visão ideal de uma nação. O PT, por décadas apontado como nova esperança, silenciosamente deu crias ruins, assim como a direita – toda ela - se sofisticou na arte de disseminar seu potentado.
Em que mãos deixamos a pátria? Onde a bandeira constitutiva de direitos sociais, onde o pulso de crescimento e estabilidade, de pátria igualitária, de país do futuro?
Vivemos no país do cinismo, onde todos convivem definindo seus fronts, lado a lado numa pluralidade competitiva e heterogenia em que tudo se permeia, nada mais.
A corrupção germinou com vontade imperativa, afirmando-se onde quer que estejam os representantes de estado. Brasília resume, paradoxalmente em solo árido, o concentrado receptivo para as ervas daninhas.
De lá vem as medidas que fazem escassear o trabalho, a ceia, vem a economia de consumo, de insumos, de mal fadados planos na falsa ideia de contenção econômica. Falta à nossa mesa a dignidade e a vergonha na cara. Falta, sobretudo ao brasileiro, a saúde política e a educação, como gênero alimentar do caráter patriota. Falta, é a realidade que mais sobeja enquanto sobram montantes nos paraísos fiscais.
Não acredito no efeito das manifestações arquitetadas, mais me perece o revanchismo da derrota que a vontade de aperfeiçoar as instituições. Todos ou quase todos a se confrontarem no cenário dos poderes, têm contas a acertar com a população, de alguma maneira, ficando aos processos e investigações em que são partes, o mérito do dolo ou da culpa. Não há isentos e por ora nenhum culpado efetivo. Sobram delatores de esquemas, acertos, lobby e graves afetações aos contribuintes.
Claramente, o lema dos protestos é um xeque-mate geral, não sobrarão peças no tabuleiro nem alicerces ilesos de rupturas. O discurso que valida a queda da coroa volta-se contra adeptos e adversários. A quem interessa o discurso anticorrupção, o impeachment e onde estão os imaculados? De que lado se situa quem arranca e quem expulsa, quem segue a boa conduta, quem é filho da pátria, quem é filho da “p”???



