Por FERNANDO BRITO - Via Tijolaço -
A decisão
da advogada Beatriz Catta Preta de abandonar seus clientes (e os milionários
honorários que receberia) chamou a atenção até de gente ingênua como eu, há dez
dias: A “Doutora
Delação” pede o boné e vai embora, de repente? Estranho…
Uma semana atrás surgiu o primeiro sinal concreto de que algo estava
acontecendo no submundo de interesses políticos e financeiros da Operação Lava
Jato.
Do nada, surgiu uma nota na Veja – único veículo de
comunicação que assume abertamente a defesa de Eduardo Cunha – intitulada ” O
Casal Fera” informando que a Doutora Delação, Beatriz Catta Preta, tinha como
sócio “ o marido, que é ex-policial, (que)usa métodos, digamos, indelicados
para negociar pagamentos. Essa era a principal reclamação dos clientes que
chegavam a seu escritório”. A nota seguia, dizendo que“socos na mesa, gritos e
xingamentos eram rotina na dinâmica das cobranças – em especial com famílias já
fragilizadas pela prisão dos acusados”.
Até este distraído blogueiro percebeu e escreveu naquele dia: Tem gato na tuba da Operação Lava
Jato.
Ontem, Luís Nassif escreveu uma bela análise dos fatos, “Para entender
o jogo do impeachment e o caso Catta Preta“, onde faz perguntas
intrigantes:
“Por que razão uma advogada criminal pouca conhecida, que transitava apenas
pelo baixo submundo do crime, se tornou advogada de todas as delações? Quais seus
contatos anteriores, para se tornar o canal entre os detidos e a força tarefa e
o juiz Sérgio Moro? Quem bancava seus honorários, se não eram os detidos? E
porque os detidos se valeram apenas dela para aceitar o acordo de delação?”
Hoje, é a Folha quem
começa a publicar as informações – até agora restritas à blogosfera, de que tem
muito caroço neste angu:
“Segundo ex-clientes de Catta Preta ouvidos pela Folha, ele apresentava os
orçamentos, fazia cobranças de honorários, e, em alguns casos, prospectava
negócios.
Colegas que conviveram com a advogada no início da carreira contam que o casal
se conheceu em 2001, quando Catta Preta atuou como defensora de Carlos. Ele foi
flagrado com US$ 400 mil em notas falsas e disse à polícia que usou as cédulas
para diminuir o prejuízo de uma negociação que tinha feito com indianos que lhe
repassaram dinheiro falso. Carlos foi condenado a três anos em regime aberto.
Nos bastidores do meio jurídico, advogados atribuem às intervenções de Carlos
parte da capacidade de Catta Preta de atrair clientes que antes eram defendidos
por outros profissionais. A Folha não conseguiu contato com a advogada.”
Nem se entrou na abertura, ano passado, da empresa de ambos em Miami, embora
seja fato documentado e ninguém fez a pergunta obvia:porque os acusados da Lava
Jato demitiram seus advogados originais e os substituíram pela Doutora Delação,
que logo firmou acordos com o Ministério Público para dedurar fatos e, quem
sabe, não-fatos.
Há um odor fétido emanando de todo este processo de delações, o qual – depois
de florescer durante meses diante de um Governo e de um PT que quase pediam
desculpas por existirem – encontrou um adversário do mesmo naipe: Eduardo
Cunha, que conhece bem estes métodos, por experiência própria.
A “sua” CPI vai, como se disse aqui, passar como um trator sobre a Doutora
Delação, sem piedade de sua vida privada e das relações profissionais. O fato
de o Dr. Moro tê-la protegido ao se recusar a fornecer a lista completa de
clientes de Catta Preta é irrelevante: basta uma consulta aos processos e se
verá quais. Os nomes serão ditos e repetidos e as contradições apontadas.
E com direito a transmissão da TV Câmara.
Não vou me surpreender se, amanhã, for revelado que Alberto Youssef, um
condenado da Justiça, em liberdade condicional por delação, foi “plantado” como
operador de gente não apenas corrupta como burra.



