Por ALTAMIRO BORGES - Via blog do Miro -
Na última
sexta-feira (8), a colunista Mônica Bergamo publicou uma notinha
meiga – bem minúscula – na Folha: “O governador Geraldo
Alckmin, de São Paulo, convidou alguns dos maiores empresários do Brasil
para jantar na ala residencial do Palácio dos Bandeirantes nesta semana. Entre
eles estavam Marcelo Odebrecht, da empreiteira Odebrecht, e Jorge Gerdau, do
grupo Gerdau”. Se a comilança tivesse sido patrocinada pela presidenta Dilma,
em pleno Palácio do Planalto, o jornalão teria dado uma manchete garrafal:
“Dilma janta com envolvidos nas operações Lava-Jato e Zelotes”. Seria o maior
escândalo, com direito a comentários hidrófobos em todos os jornais, revistas e
emissoras de rádio e tevê. Possivelmente, algum capacho do PSDB proporia a CPI
do jantar indigesto.
Ainda segundo a jornalista, o regabofe no Palácio dos
Bandeirantes contou com a presença do ex-presidente FHC, do “empresário” João
Doria Jr. – talvez para agradecer os generosos anúncios publicitários do
governo tucano a sua desconhecida revista – e do dono da Rede Bandeirantes,
Johnny Saad – exemplo do jornalismo imparcial e isento que vegeta no Brasil. E
Mônica Bergamo concluiu a sua coluna com uma importante informação: “Alckmin,
que é pré-candidato a presidente [da República], tem estreitado contatos com o
empresariado. No domingo ele viaja aos EUA para um seminário no Harvard Club,
em NY, sobre investimentos em SP, organizado pelo Lide e pela Câmara de
Comércio Brasil-EUA”.
Nada mais foi falado sobre o indigesto jantar. A construtora Odebrecht é uma
das principais acusadas de pagar propinas para ex-diretores da Petrobras. Ela é
citada quase todos os dias no noticiário sobre a midiática Operação Lava-Jato.
A presença do seu proprietário no Palácio dos Bandeirantes, porém, não gerou
qualquer critica da imprensa seletiva ou sacadas agressivas do “juiz” Sergio
Moro. Já o Grupo Gerdau está sendo investigado pela Polícia Federal na Operação
Zelotes, que apura a sonegação de mais de R$ 19 bilhões de grandes empresas –
uma das maiores fraudes financeiras da história do país. Diferentemente da
Java-Jato, a Zelotes sumiu da mídia – até porque alguns proprietários de
veículos de comunicação estão metidos neste gigantesco crime fiscal.
O governador Geraldo Alckmin, já batizado de “picolé de chuchu”, segue
totalmente blindado pela mídia chapa-branca. Nas eleições de outubro passado,
por exemplo, as empresas envolvidas no “trensalão tucano” – que a imprensa
chama carinhosamente de “cartel dos trens” e que já sumiu do noticiário – deram
quase 60% dos recursos para sua campanha pela reeleição. No total, quatro
empresas investigadas por fraudes e propinas nas licitações dos trens do Metrô
e da CPTM doaram R$ 8,3 milhões para Geraldo Alckmin – 56% do total arrecadado
(R$ 14,7 milhões). Duas destas empresas – Queiroz Galvão e OAS – também são
investigadas pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal na Operação
Lava-Jato.
Mas, a exemplo do indigesto jantar da semana passada, estas relações nunca
mereceram manchetes na mídia chapa-branca. Geraldo Alckmin venceu a eleição no
primeiro turno e segue, intocável, rumo à campanha presidencial de 2018. E
ainda tem gente que acredita na imparcialidade da imprensa!



