Por HÉLIO DUQUE - Via AD -
“O que surgiu no Brasil nos últimos anos não foi uma nova
classe média, mas uma nova classe trabalhadora precarizada, super explorada.”
Em 21 de março de 2013, o sociólogo Jessé José de Souza, professor da
Universidade Federal Fluminense, no seu livro “Os batalhadores brasileiros –
nova classe média ou nova classe trabalhadora””, contestava a teoria oficial de
surgimento de uma nova classe média. Expressão criada pelo economista Marcelo
Neri, então presidente do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e
posteriormente promovido a ministro no governo Dilma Rousseff. Recentemente
demitido, para o seu lugar foi nomeado o ministro Mangabeira Unger. Ao assumir
alertou que nos últimos anos o “keynesianismo vulgar” agravou os problemas do
Brasil, adiando o dia da conta e do castigo.
O Ipea, órgão subordinado ao seu ministério, passou a ter
um novo titular. E o escolhido, surpreendentemente, foi o sociólogo Jessé José
de Souza, para restabelecer e resgatar a credibilidade do órgão. No seu livro
afirmava: “Dizer que os emergentes são a nova classe média é uma forma de
dizer, na verdade, que o Brasil finalmente está
se tornando uma Alemanha, uma França ou uns Estados Unidos. Nossa
pesquisa empírica e teórica demonstrou que isso é mentira”. Na mesma direção o
ministro Mangabeira Unger, não deixa por menos, constatando que a política
econômica dos governos Lula e Dilma teria gerado alto nível de emprego, mas a
grande maioria empregada em serviços de baixa produtividade e sem futuro.
A realidade, nesse segundo mandato presidencial, está
dando total razão às contundentes constatações de Mangabeira Unger e Jessé José
de Souza. Eles parecem ter emergidos do realismo fantástico do escritor Gabriel
Garcia Marques, autênticos personagens do romance “Cem Anos de Solidão”. Na
verdade o governo vendeu para a sociedade no curto prazo um cheque especial sem
cobertura, esquecendo o futuro, enxergando com “ativo populismo”, unicamente
“objetivos eleitorais”. Por algum tempo o engodo deu certo, alicerçado nos
marqueteiros e suas campanhas milionárias. Agora a crise econômica e social se
espalha anulando conquistas e travando a ascensão social de milhões de
brasileiros. A fragilidade das instituições econômicas atingiu o ápice.
As famílias estão sendo obrigadas a apertar o cinto,
tarifas públicas, aluguel, remédios e alimentos absorvem a quase totalidade do
orçamento doméstico. As finanças familiares podem ser medidas, no que ocorreu
no mês de março: os recursos da caderneta de poupança foram sacadas para pagar
dívidas no montante de R$ 11,4 bilhões. Paralelamente o endividamento está
levando ao desespero enormes parcelas da população. Agravado com o desemprego,
atestado pela Pnad-Continua, se expandindo nos grandes centros urbanos. Mesmo
quem continua empregado teme o que pode vir a acontecer. É um cenário
preocupante. Onde a alta da inflação é perigoso combustível.
Resultado de tudo isso é economia em recessão,
desvalorização da moeda, inflação ascendente, queda de salários e ajuste fiscal
penalizador da sociedade. Para piorar: crise política expondo a fragilidade dos
“apelidados” partidos políticos e escândalos de corrupção explodindo como um
rio caudaloso.
Atônito o governo queda-se perplexo engolfado em um
terremoto que ele próprio produziu. E negado pela candidata à reeleição Dilma
Rousseff na campanha eleitoral. Gerando no bojo da crise, a frustração da
sociedade por ter sido enganada. Agora tardiamente tenta corrigir a rota,
reconhecendo na prática os erros cometidos, mas sem admitir publicamente. O
governo é uma metáfora.



