ALCYR CAVALCANTI -
Favelas: PARAÍSO TROPICAL OU INFERNO ASTRAL?
PARA SERGIO CABRAL "UMA FÁBRICA DE MARGINAIS"
A FAVELA É UMA EXIGÊNCIA DA ESTRUTURA SOCIAL BRASILEIRA
(José Artur Rios)
A tentativa de mostrar as favelas cariocas às vezes como um paraíso
tropical, exemplo o morro da Babilônia, ás vezes como um inferno astral
no caso da Nova Brasília, vem demonstrar uma falta de conhecimento ao
analisar esses conglomerados urbanos, também conhecidos como
comunidades.
Desde a primeira em 1897 no Morro da Providência no Centro do Rio, que o
preconceito predomina, elas seriam foco de doenças, reduto da
marginalidade e fonte de todos os vícios. Vem também desta época o
descaso e a falta de interesse dos governantes, sejam eles pertencentes à
qualquer grupamento político. Para os que estão no poder as favelas
sempre se constituíram em um problema, para os despossuídos uma solução
para a falta de interesse em resolver o problema de onde morar. Para
José Artur Rios ela "é uma exigência da estrutura social brasileira" No
Rio de Janeiro são mais de mil, com tendência a crescer ainda mais,
devido ao desemprego, à falta de uma política habitacional, sistema de
transportes ineficiente e mais uma série de fatores que vamos deixar
para uma outra análise. Em quase todas elas a característica é a falta
de saneamento básico, a invasão de terreno público ou privado e
construções irregulares, muitas vezes em áreas de risco. Em discurso
feito em 25/10/2007 Cabral, então governador preocupado com altos
índices de criminalidade tomando como exemplo a Rocinha disparou :"É uma
fábrica de marginais" devido aos altos índices de natalidade, e pregou
radical controle comparando a localidade à Zâmbia ou Gabão. A solução
para os governantes tem sido a repressão, a mudança de costumes a
"entrada da civilização para a expulsão da barbárie". Com as promessas
do Programa de Aceleração do Crescimento-PAC parecia que tudo ficaria
resolvido, de inferno tudo se transformaria em paraíso, como num golpe
de mágica. Ao mesmo tempo vieram as Unidades de Policia Pacificadora-UPP
que viriam para trazer a tão almejada paz. Pouca coisa foi feita,
algumas favelas foram invadidas e ocupadas por militares, mas as
promessas em sua maior parte não saíram do papel. Tiroteios tem sido
diários, a disputa por controle de venda de drogas a varejo continua,
balas perdidas têm endereço atingindo inocentes, na maioria das vezes
crianças que simplesmente brincavam, como no caso de Eduardo de Jesus de
10 anos.
A tentativa agora é usar o belo visual das localidades para centros
de turismo, mais acessível aos milhares de turistas que agora estão
chegando à cidade para os megaeventos, desde a visita do Papa Francisco
em 2013. Como no sistema existem curiosas contradições, os moradores são
obrigados a sair de locais onde construíram suas vidas, para moradias
distantes do exíguo mercado de trabalho. A tentativa de erradicar as
favelas da Zona Sul tornou-se inviável devido à imensa população. Agora
vai vigorar um processo seletivo, onde os mais fortes, ou mais aptos vão
permanecer. A fria e implacável especulação imobiliária, um dos pilares
do capitalismo tardio vai prevalecer, e os morros vão ser tomados pelos
donos do capital, em um processo seletivo. Tudo vai ser transformado
em um paraíso tropical cenográfico, ao estilo fábrica dos sonhos,
embora a realidade seja bem outra, muito diferente. A antropóloga
norte-americana Janice Perlman tem uma obra muito importante para a
questão, "O Mito da Marginalidade", da qual cito pequeno trecho que me
parece bastante apropriado: "Os mitos solidamente arraigados servem para
fundamentar crenças pessoais e interesses da sociedade, e também para
dificultar análises aprofundadas que viriam a desmistificar conceitos (e
preconceitos) que continuam como verdades imutáveis, moldando políticas
públicas que afetam diretamente as populações das favelas e periferias
urbanas".



