23.8.14

JORNAIS SEM GOVERNO OU GOVERNO SEM JORNAIS?

CARLOS CHAGAS -

Antes mesmo de ser o resultado de sua capacidade como líder sindical, o Lula foi um produto da imprensa. Concentrou as atenções da mídia ao promover as primeiras greves de metalúrgicos no ABC. Claro que pesou para que ganhasse o noticiário, do qual nunca mais saiu, o fato de não ser comunista e sequer pregar a socialização dos meios de produção. Inaugurou o sindicalismo de resultados, sempre ressaltando a importância de o patrão obter maiores lucros, pois os empregados disporiam de melhores meios para reivindicar aumentos salariais. Foi brindado com a simpatia dos repórteres e a boa vontade dos barões da imprensa, apesar da intolerância de alguns mais empedernidos.

Vale repetir, nasceu para a política como um produto dos jornais e da televisão. Também cultivou o vício de achar que apenas ele tinha razão, quando fundou o PT e a CUT, mentalidade que levou para o palácio do Planalto depois de eleito presidente da Republica. Esses dois fatores acabaram batendo de frente: a imprensa e a presunção. Por isso o Lula vibrou  outra vez tacape e borduna no lombo dos meios de comunicação. Declarou esta semana, ao lado de Dilma, ser a imprensa o verdadeiro partido de oposição.

Por quê? Porque ela não forma no coro dos companheiros que tudo aplaudem e nada contestam. Basta apontar um erro, formular uma critica ou discordar de uma diretriz para o jornalista ser considerado inimigo, pelo Lula. Ele atribui más e pérfidas intenções a quem não concorda com o governo do PT. Pior se a mídia descobre e divulga malfeitos e lambanças. Tudo não passa de uma conspiração, conclui o primeiro-companheiro. Evidência maior da distorção de seu pensamento está no fato de que a imprensa inteira registrou sua agressão.

A imprensa erra? Muito. Manipula atos e fatos ao sabor de seus interesses? Sem dúvida. Mas será exagero, talvez estupidez, imaginá-la solerte instrumento de demolição dos objetivos e realizações dos detentores do poder, como vem fazendo o ex-presidente. Valeria que atentasse para a lição de Thomas Jefferson, para quem “se me fosse dado dispor de jornais sem governo, ou de governo sem jornais, ficaria com a primeira hipótese”.

UMA DATA A REGISTRAR

Sessenta anos atrás, 24 de agosto de 1954, Getúlio Vargas saía da vida para entrar na História. Graças a ele, os valores do trabalho viram-se reconhecidos depois de séculos de espoliação promovida pelo capital. Salário mínimo, jornada de oito horas, pagamento de horas extraordinárias, férias remuneradas, pensões, aposentadorias, saúde e educação atendidas pelo poder público, estabilidade no emprego e outros direitos trabalhistas foram estabelecidos pelo inesquecível presidente da Republica, que ia ser deposto pela segunda vez precisamente por suas realizações sociais. À humilhação, preferiu dar um tiro no peito.