CARLOS CHAGAS -
Antes mesmo de ser o resultado de sua capacidade como líder sindical,
o Lula foi um produto da imprensa. Concentrou as atenções da mídia ao
promover as primeiras greves de metalúrgicos no ABC. Claro que pesou
para que ganhasse o noticiário, do qual nunca mais saiu, o fato de não
ser comunista e sequer pregar a socialização dos meios de produção.
Inaugurou o sindicalismo de resultados, sempre ressaltando a importância
de o patrão obter maiores lucros, pois os empregados disporiam de
melhores meios para reivindicar aumentos salariais. Foi brindado com a
simpatia dos repórteres e a boa vontade dos barões da imprensa, apesar
da intolerância de alguns mais empedernidos.
Vale repetir, nasceu para a política como um produto dos jornais e da
televisão. Também cultivou o vício de achar que apenas ele tinha razão,
quando fundou o PT e a CUT, mentalidade que levou para o palácio do
Planalto depois de eleito presidente da Republica. Esses dois fatores
acabaram batendo de frente: a imprensa e a presunção. Por isso o Lula
vibrou outra vez tacape e borduna no lombo dos meios de comunicação.
Declarou esta semana, ao lado de Dilma, ser a imprensa o verdadeiro
partido de oposição.
Por quê? Porque ela não forma no coro dos companheiros que tudo
aplaudem e nada contestam. Basta apontar um erro, formular uma critica
ou discordar de uma diretriz para o jornalista ser considerado inimigo,
pelo Lula. Ele atribui más e pérfidas intenções a quem não concorda com o
governo do PT. Pior se a mídia descobre e divulga malfeitos e
lambanças. Tudo não passa de uma conspiração, conclui o
primeiro-companheiro. Evidência maior da distorção de seu pensamento
está no fato de que a imprensa inteira registrou sua agressão.
A imprensa erra? Muito. Manipula atos e fatos ao sabor de seus
interesses? Sem dúvida. Mas será exagero, talvez estupidez, imaginá-la
solerte instrumento de demolição dos objetivos e realizações dos
detentores do poder, como vem fazendo o ex-presidente. Valeria que
atentasse para a lição de Thomas Jefferson, para quem “se me fosse dado
dispor de jornais sem governo, ou de governo sem jornais, ficaria com a
primeira hipótese”.
UMA DATA A REGISTRAR
Sessenta anos atrás, 24 de agosto de 1954, Getúlio Vargas saía da
vida para entrar na História. Graças a ele, os valores do trabalho
viram-se reconhecidos depois de séculos de espoliação promovida pelo
capital. Salário mínimo, jornada de oito horas, pagamento de horas
extraordinárias, férias remuneradas, pensões, aposentadorias, saúde e
educação atendidas pelo poder público, estabilidade no emprego e outros
direitos trabalhistas foram estabelecidos pelo inesquecível presidente
da Republica, que ia ser deposto pela segunda vez precisamente por suas
realizações sociais. À humilhação, preferiu dar um tiro no peito.