Via Opera Mundi -
Atual diretora-geral do Fundo é investigada por favorecer empresário
amigo de Sarkozy na venda da marca Adidas, enquanto era ministra das
Finanças.
Christine Lagarde já afirmou que vai recorrer da decisão e disse que não pretende renunciar ao posto de diretora-geral do FMI |
Christine Lagarde, atual diretora-geral do FMI (Fundo Monetário
Internacional), disse nesta quarta-feira (27/08) que está sob
investigação formal da Justiça francesa por "negligência" na condução de
um caso de fraude multimilionária enquanto era ministra das Finanças
durante o governo do presidente Nicolas Sarkozy (2007-2012).
Lagarde disse que instruiu seus advogados a apelarem da decisão, a qual a
chefe do FMI considera "totalmente sem méritos". Perguntada se
pretendia pedir afastamento da diretoria da instituição, disse que "não"
e que estava a caminho de Washington para fornecer aos colegas
economistas do Fundo todas as informações necessárias."A comissão investigadora da corte de Justiça da República da França
decidiu me colocar sobre investigação formal", disse a economista à
agência AFP. A declaração vem um dia após o caso de Lagarde ter
sido apreciado por uma corte especial francesa, a única competente para
julgar a ação de ministros e ex-ministros no exercício do cargo
público.
No sistema francês, ser alvo de investigação formal é o equivalente
ser réu em processo judicial e acontece quando o juiz competente decide
que o caso precisa de uma resposta da Justiça. Nem sempre, no entanto, a
investigação é levada para ser julgada em um tribunal.
Venda da Adidas
Conhecido como "caso Tapie", o processo no qual a chefe do FMI é ré
procura esclarecer se foi ou não legítima a forma como a então ministra
das Finanças providenciou o pagamento de € 400 milhões (R$ 1,2 bilhão)
em indenização ao empresário Bernard Tapie [na foto, à direita], um antigo ministro de Fraçois Miterrand e amigo de Sarkozy.
O pagamento multimilionário está ligado a uma disputa entre o
empresário e o banco Credit Lyonnais, gerido parcialmente pelo Estado
francês, sobre a venda da marca esportiva Adidas, em 1993. Tapie alega
que o banco atuou de forma fraudulenta ao depreciar intencionalmente o
valor da empresa no momento da venda. Dessa forma, o governo francês,
como principal acionista do banco, deveria indenizá-lo.
Em vez de deixar o caso seguir sua tramitação ordinária na Justiça
comum, a ministra optou, em 2007, por recorrer a um tribunal de
arbitragem, que acabou decidindo pela indenização milionária. A opção de
Lagarde causou forte polêmica na França, sob acusações de que o
presidente Nicolas Sarkozy havia pressionado a ministra para favorecer o
empresário, em troca de seu apoio nas eleições.
"Depois de três anos de processo, a única alegação que resta é de que,
por desatenção, eu posso ter deixado de bloquear a corte arbitral que
pôs fim ao longo caso Tapie", disse Lagarde à AFP.
Além de Lagarde, também estão investigação por corrupção os juízes que
faziam parte da corte de arbitragem e o próprio Bernard Tapie.