CARLOS CHAGAS -
Surpresas, propriamente, não deverão acontecer hoje, aqui em
Brasília, durante a Convenção do PT que formalizará a candidatura de
Dilma Rousseff à reeleição de outubro. Caberá ao ex-presidente Lula
propor a decisão aos quase 800 companheiros convencionais, certamente
sob intensas manifestações de concordância. O acordo PT-PMDB será
exaltado, com direito à presença do vice Michel Temer. Salvo engano,
deverá registrar-se apenas uma singularidade: o Lula será muito mais
aplaudido do que Dilma.
Nas aparências, uma festa. No fundo, porém, os participantes estarão
temerosos da decisão oficializada: e se a candidata continuar caindo nas
pesquisas e, mais ainda, a despertar na opinião pública um nítido
sentimento de rejeição? Porque dúvidas relativas ao sucesso da
candidatura Dilma registram-se no íntimo de cada petista. Com a
consequente e reservada indagação: não seria melhor o partido indicar o
Lula, como forma de preservação do poder?
Poucos companheiros ousarão tornar público esse anseio, cada vez mais
verificado em particular. Porque o objetivo central do PT, faz muito, é
de permanecer ocupando os espaços maiores de controle da máquina
estatal. Trata-se de não perder a chave do cofre, tanto faz se para a
concretização dos planos e programas partidários ou se para satisfação
de objetivos pessoais, nem sempre eivados de espírito público.
Em suma, os companheiros cumprirão o roteiro traçado para uma
convenção como a de hoje, ainda que de olho em outro, capaz de virar a
sucessão presidencial pelo avesso. Será uma convenção provisória?
Junte-se a essas preocupações o quadro nada otimista para as eleições
de governador e se terá a receita de decisões instáveis. Porque nos
principais Estados, não vão bem os candidatos do PT. Cite-se apenas
Alexandre Padilha, em São Paulo, para evitar o constrangimento de
referir o Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Bahia, Paraná, Pernambuco,
Ceará e outros. Pode não funcionar o antídoto para o pessimismo
generalizado, de que tudo mudará quando do início da propaganda
eleitoral gratuita.
NÃO DÁ PARA SOLTAR
As mais recentes manifestações dos black blocs levam a uma indagação:
por que esses animais, flagrados praticando crimes indiscutíveis, não
ficam presos, quando conduzidos à delegacias? Por que não processá-los,
mantendo-os na cadeia pela óbvia periculosidade que representam?