DANIELA ABREU -
Enquanto a bola rola em estádios
luxuosos, mais educadores ficam sem salários e podem perder o seu emprego
público. Embora esta pareça uma frase contraditória já que uma das condições de
ser funcionário público é a estabilidade, garantida pela constituição brasileira,
os servidores públicos só podem ser demitidos se
cometerem faltas graves ou abandonarem o emprego. Ao abrir mais de quinhentos inquéritos
administrativos com o objetivo de demitir profissionais da educação que
aderiram à greve, é cometida uma das maiores aberrações trabalhistas
que se tem notícia. Professoras aposentadas, militantes experientes afirmam
nunca ter visto nada parecido. Este governo não respeita quem educa e nem muito
menos quem aprende.
Como
compreender os tempos atuais? Talvez enquanto o ano de 2013 é conhecido como o
ano que o monstro acordou, o de 2014 será o ano que governos tentaram destruir
o monstro, produziram leis específicas pra isso e rasgaram a Carta Magna.
Interpretar greve como falta sem justificativa é uma ação autoritária que fere
diretamente o Estado Democrático de Direito. Não estamos passando por um golpe?
Como então descrever os tempos atuais, onde manifestantes são presos, uma lei
de segurança nacional é criada para a Copa do Mundo e todas as greves são
julgadas ilegais, sindicatos multados e profissionais demitidos, mesmos os
funcionários públicos.
Até o
agora o autoritarismo se justificava transformando manifestações legítimas em
atos de vandalismo. Mesmo o Governador Geraldo Alkmin, representante da direita
conservadora de São Paulo, diante da grande mídia tentou disfarçar que sua
atitude de demitir os metroviários, fosse pela greve. Não há dúvidas que foram
ações de retaliação. O governador Pezão e seu Secretário Wilson Risolia não esconderam
que seu ataque é diretamente aos profissionais da educação e, greve. Sendo o
direito de greve garantido pelo artigo 9º da Constituição Federal do Brasil,
devendo ser exercida em sua plenitude, sem punições ou restrições quando
exercida, tal atitude revela um desrespeito com as leis que garantem a
democracia brasileira.
Talvez
o atual governador do Rio de Janeiro já em campanha pelo Estado, inaugurando
Centros Vocacionais Tecnológicos, UPAs, antes de estarem prontos, queira deixar
claro qual o seu compromisso com a Constituição Brasileira, com as leis
trabalhistas e com a educação da Rede Estadual. Sua intransigência, autoritarismo
e inabilidade ficam expostos quando ao se deparar com sua primeira greve na
educação, não abrir nenhum canal de negociação.
A greve
da educação entre as reivindicações mais corporativas como o reajuste salarial
de 20% e condições melhores de trabalho, traz um grande debate sobre o projeto
político pedagógico que se quer para as crianças e jovens do país. A educação
não é neutra, ao optarem por uma educação voltada para metas, e avaliações
externas, em detrimento de uma pedagogia que pense na formação crítica,
criativa e que respeite as variadas realidades, está se desenhando um modelo de
sociedade.
A
Secretaria de Educação do Estado do Rio de Janeiro na gestão do Secretário
Risolia é marcada pelo fechamento de escolas, onde muitas serviam a bairros
inteiros, com trabalhos comunitários valorosos, como o C.E Professora Luiza
Vieira em Magé. Também terá seu período registrado pelas inúmeras turmas
fechadas durante o ano letivo, turmas com 20,25 ou mais alunos assíduos. Em um
momento que os professores lutam pelo quantitativo máximo de 25 alunos por
turma. Alunos sendo vistos como números e metros, pois salas são medidas para
avaliarem quantas cadeiras cabem. Para a metragem estar certa as cadeiras devem estar perfiladas, mas
se o professor preferir dar aula em roda, talvez não caibam todos na sala.
Marcado também pelo medo e ameaças. Diretores falam que são ameaçados e por
isso ameaçam, o assédio moral tornou-se rotina. Professores perdem sua
autonomia, submetidos a utilizarem notas de provas externas, currículo mínimo e
projetos interdisciplinares propostos pela SEEDUC e suas coordenadorias. O que
era para envolver toda a escola, e ser um momento prazeroso para o aluno, passa
a ser espaço para ganhar ponto e muitas fotos para mostrarmos para a GIDE. Quase
uma “Dona Gide”, sempre presente com seus supervisores. Qual o profissional do
Estado nunca ouviu: ”Hoje não dá, pois tem supervisão da GIDE”, como se os
profissionais fizessem algo errado.
A falta
de democracia é a principal característica desses tempos, dentro e fora das
escolas. Além da ausência de eleição para Direção das escolas, do ataque a
organização política dos estudantes, os quais não podem participar de um grêmio
livre e da ausência de instâncias de debate real, a gora os profissionais estão
sendo proibidos de exercerem seu direito constitucional de greve.
O Sr.
Luiz Fernando Pezão rasga a Carta Magna e expõe seu compromisso com os direitos
dos trabalhadores do Estado do Rio de Janeiro.
Boa
Sorte nesse ano de eleição!