CARLOS CHAGAS -
No meio de tanta lambança verificada na operação de compra e venda
entre os partidos e o governo, neste final de mês, uma sobressai de
todas: o desembarque do PTB do bloco de apoio à presidente Dilma e sua
adesão à candidatura Aécio Neves. Não que o candidato tucano devesse
rejeitar qualquer tipo de adesão, muito menos que uma legenda não possa
rever posicionamentos e trocar de candidatos. O problema está nos
motivos que levaram os trabalhistas a mudar de lado. São vergonhosos,
menos pela decisão ter sido tomada na cadeia, onde se encontra Roberto
Jefferson, seu líder maior, mais por haver-se tratado de uma vil e
escancarada operação fisiológica.
O PTB vingou-se da presidente e do PT por não ter sido aquinhoado com
um ministério, na última reforma do governo, como também pelo fato de
um de seus dirigentes, indicado pelo palácio do Planalto para uma vaga
no Tribunal de Contas da União, ter sido logo depois abandonado. Como,
acima de tudo, por fazer de sua atuação no Congresso um balcão de
negócios. E isso dias depois de haver se comprometido a apoiar a
reeleição da presidente, num jantar de gala a ela oferecido.
Um papelão digno dos melhores momentos das patuscadas dos três
patetas ou da dupla Oscarito-Grande Otelo, para ficarmos à margem dos
modernos comediantes de hoje.
O PTB, tal como se encontra disposto no quadro partidário, exprime a
distorção completa do velho PTB fundado por Getúlio Vargas. A partir do
fim da ditadura militar, vendeu-se por muito menos de trinta dinheiros,
quando a adesista Ivete Vargas, apoiada pelo general Golbery do Couto e
Silva, garfou Leonel Brizola e apoderou-se do partido. De lá para cá,
deixou de ser o abrigo do trabalhador e de suas reivindicações para
tornar-se o escoadouro de negócios escusos, a concretização de sinecuras
e o abrigo das piores camadas que evoluíam em torno dos governos.
Aderiu ao Lula, como não poderia deixar de ser, e ficou com Dilma em
troca de parcelas do poder. Cultivou a corrupção, ficando exposto quando
vieram a público as primeiras denúncias referentes ao engajamento de
seus filiados nas falcatruas praticadas à sombra do palácio do Planalto.
Mas cumpriu as obrigações, locupletando-se e votando com o governo no
Congresso, sem fazer caso de suas antigas propostas de redenção do
trabalho diante do capital. Virou um partido das elites e da burguesia
corrupta, mas, ao menos, manteve a coerência do compromisso em torno da
máxima do “é dando que se recebe”.
O que degrada ainda mais o PTB é a traição. Claro que a presidente
Dilma deveria ter-se precavido contra a previsível reviravolta de falsos
aliados, mas faltou-lhe coragem para expeli-los, como havia faltado
quando os deglutiu. Acabou convencida de precisar permanecer na lama,
junto com outros partidos empenhados em valer-se das benesses da
administração pública. O problema é que até as partidas disputadas no
esgoto tem suas regras éticas. A lealdade, mesmo entre bandidos, parece
uma delas.
Pois o que acaba de acontecer? A quebra dos compromissos firmados à
sombra dos piores exemplos de ganância política. Também, pior para
todos, de Dilma ao PTB. Eles se merecem.