25.1.14

ROLEZINHO NO LEBLON

Via Revista Vírus Planetário -

Na onda dos Rolezinhos que começaram em São Paulo, e muito por conta da repressão a eles, vimos pipocar em todo o país eventos no facebook chamando rolezinhos em diferentes shoppings. Certamente o marcado para o Shopping Leblon, no Rio de Janeiro, foi, desde o início, o mais polêmico.

Manifestantes se aglomeram em
frente à entrada do shopping Leblon

O Leblon é o símbolo máximo da burguesia carioca (e brasileira). Um dos bairros onde há mais riqueza concentrada por cabeça no mundo é também um dos maiores símbolos da segregação. Seja por olhares atravessados, seja pelos preços proibitivos, Leblon não é lugar pra pobre. E não é, e ponto final.

Tanto não é lugar pra pobre que os empresários do shopping apresentaram um pedido para que o evento fosse proibido, já que era incompatível com tal shopping e a juíza acatou o pedido, proibindo o rolezinho. Felizmente, advogados ligados às causas populares atuaram de forma enfática e conseguiram a liberação do rolezinho. Diante disso, foi declarado que o shopping simplesmente não abriria as suas portas.

A mídia grande logo noticiou que o shopping estaria fechado neste domingo, 19 de janeiro – data marcada para o evento -, o que colaborou em grande parte para o esvaziamento do rolezinho, que acabou por ter ares de uma pequena manifestação. Aos poucos, foram chegando ativistas de diferentes movimentos, moradores de diferentes locais; perto, longe, das favelas, cada qual trazia sua vontade de se manifestar contra a repressão e os casos de racismo explícito que os rolezinhos têm desencadeado nos shoppings Brasil afora.

Muitos vieram só para olhar. Era notável no olhar e na fala de muitos moradores da região que aquelas pessoas lhe eram estranhas, estranhas demais, quase exóticas. Outros estavam assustados, muito mais pela grande quantidade de policiais que cercava a região e impedia a entrada no shopping (que também estava “protegido” por dezenas de seguranças uniformizados e à paisana) do que pelo próprio rolezinho.

Ao som de funk e diferentes músicas de protesto, foram cantadas palavras de ordem contra a repressão, contra o racismo e também contra a copa, que é pauta de praticamente todas as manifestações deste ano. Com algumas horas de rolezinho na porta do shopping, os manifestantes acabaram sendo surpreendidos pela tropa de choque, que veio demonstrar mais uma vez que vivemos num estado onde a democracia não é para todos e que mesmo uma manifestação pelo direito de todos estarem dentro de um shopping – símbolo máximo do consumismo – é repreendida pela força policial de forma violenta.

As mentiras que a mídia conta


Enorme era o número de câmeras e de repórteres das grandes emissoras de tv nacionais e até diversos correspondentes internacionais. A mídia grande chegou com tudo no rolezinho no Leblon para recolher material e contar suas grandes mentiras.

As entrevistas tinham por objetivo muito mais desmascarar os manifestantes do que discutir de fato por que é tão importante que esse rolezinho esteja acontecendo. Em telefones celulares, repórteres conversavam baixo com seus editores, traçando com seria a estratégia das perguntas para montar a reportagem. Uma dos argumentos que ouvi, foi ressaltar como o shopping perdia dinheiro por conta de alguns jovens que atrapalharam um dia normal de trabalho na vida das pessoas. Aguardem essas e outras mentiras nos grandes jornais e portais da internet.

O rolezinho é resistência e luta


Manifestante faz paródia de socialite
Manifestante faz paródia de socialite
A origem controversa do rolezinho pode ter criado dúvidas sobre a importância política destes eventos. O capitalismo vende uma imagem de democracia e igualdade de oportunidades, mas quando os jovens da periferia, pobres, pretos, tentaram usufruir do seu direito democrático de consumir e vimos claramente o que aconteceu.

Nem o consumo no capitalismo é democrático, ele tem recorte de cor e recorte de classe. A repressão, os shoppings fechados, pessoas negras sendo revistadas e tendo seu direito de ir e vir negado são a mais clara demonstração da segregação social, que acontece em todas as partes e está agora estampada nos muros dos shoppings. Toda lutadora e todo lutador deve não só denunciar essa injustiça, mas estar lado a lado, junto e misturado construindo a resistência contra toda forma de repressão e segregação racial e social. Ocupar a cidade deveria ser um direito de todos e até que seja, permaneceremos dando nossos rolezinhos.