26.1.14

OS COMPANHEIROS, COITADOS, ACABARAM EM DAVOS

CARLOS CHAGAS -
Já estava previsto, não poderia ter sido diferente, desde que ela decidiu ir a Davos. Desembarcou de chapéu na mão, atrás de investimentos que,  deixou claro, são  imprescindíveis para a  sobrevivência do governo do PT. Para evitar nossa imersão numa  crise dos diabos,  só com dinheiro estrangeiro. Outra razão não havia para Dilma expor nossas entranhas, mesmo sob o rótulo de nos constituirmos num paraíso para a aplicação de recursos externos. Dourou a pílula, enaltecendo o combate à inflação, o câmbio flutuante, as contas do governo equilibradas e o respeito aos contratos, mas na verdade garantiu mais favores, privatizações, remessas  de lucros e isenções fiscais.
Como conseqüência, ouviu o inevitável: os donos da economia mundial querem mais: o fim das barreiras alfandegárias ainda existentes, reformas como a supressão   dos direitos trabalhistas que  restaram, abertura completa ao capital  especulativo e sempre mais importações do que exportações. Numa palavra, a volta aos tempos do Brasil-colônia, do encilhamento de nossa economia e da subordinação total.
Convenhamos, não poderia ter sido diferente. Quem entra no covil dos leões não deve esperar senão servir de refeição para presas e garras afiadas.
A pergunta é sobre o porquê dessa oferta subserviente, e a resposta surge óbvia: se a presidente  quer garantir a reeleição, precisará aproveitar todos os mecanismos capazes de ajudá-la. Um deles é o alinhamento aos interesses do mercado internacional, em condições de despejar aqui alguns bilhões para enfeitar o modelo que Fernando Henrique costurou,  o Lula vestiu e ela continua usando. Neoliberalismo? Quase.
Contrabalançando a evidência dessa subordinação maquiada de convite para os investidores ganharem mais dinheiro às nossas custas, no seu regresso da Suiça Dilma fará uma parada em Cuba. Certamente enaltecerá os irmãos Castro, a colaboração do Brasil com o governo socialista e o envio de mais médicos cubanos ao nosso país.
Quando voltar não deixará de exaltar o sucesso do périplo internacional. Poderá ter reforçado sua candidatura ao segundo mandato, receberá loas e congratulações. Mas ficará  uma dúvida que jamais será tornada pública: foi para isso que o Partido dos Trabalhadores chegou e quer permanecer no poder? Os companheiros, coitados, acabaram em Davos…
INSUFICIÊNCIA E INGRATIDÃO
Difícil de entender foi a manifestação de Gilberto Carvalho no Forum Social Temático realizado em Porto Alegre, uma espécie de reverso da medalha  contraposto ao Forum de Davos. Porque o secretário-geral da presidência da República admitiu que o modelo de governar  do PT dá sinais de desgaste e precisa ser substituído por um novo projeto. Reconheceu  como insuficientes as conquistas de inclusão social e falou da perplexidade diante das manifestações populares de junho do ano passado. Terá sido ingratidão do povo?
Carvalho destaca-se no palácio do Planalto pela contundência de suas opiniões, mas dessa vez exagerou. Nem suas estreitas relações com o ex-presidente Lula deverão livrá-lo de uma reprimenda de Dilma.