JOSÉ CARLOS WERNECK -
Vejo com muito bons olhos
essas manifestações da população contra essa orgia de gastos que estão sendo
feitos, no País, para a Copa do Mundo. O povo, embora tardiamente, está se
conscientizando, que não interessa se viver num país cotado para sediar grandes
eventos, sem que a imensa maioria de sua população usufrua dos benefícios que
deveriam advir desta condição de sede do principal item do Calendário Esportivo
Internacional. Seria o mesmo que levar uma pessoa faminta a um banquete e lhe
dizer: “Veja que beleza e variedade de pratos! Você pode olhar TUDO, mas não
pode provar NADA!”
Nossa desigualdade social
é cruel e é fruto de uma distribuição de renda perversa, que é mais que secular
e ao contrário do que se vem apregoando, se agrava a cada dia.
Até a década de 70 a
população brasileira tinha acesso a um Sistema de Educação e de Saúde com
níveis de qualidade. No caso específico da Educação, as escolas públicas,
geralmente, ofereciam um ensino de excelente nível.
Escolas públicas de
vários estados brasileiros eram referências em matéria de Educação. No então
Estado da Guanabara, eram comuns escolas públicas, com níveis de excelência,
tanto da rede estadual, como naquelas mantidas pelo Governo Federal. Para ficar
só em alguns exemplos podemos citar, o Colégio Pedro II, por onde estudaram
brasileiros do calibre de Afonso Arinos de Melo Franco, Manuel Bandeira e
tantos outros nomes de destaque da cultura nacional. Outro estabelecimento que
servia de modelo era o Instituto de Educação, que formava normalistas, que
quando optavam por ingressar no ensino superior, obtinham os primeiros lugares,
nas mais renomadas Universidades. O mesmo pode-se dizer do Colégio de
Aplicação, da Faculdade Nacional de Filosofia.
Em Brasília acontecia o
mesmo com estabelecimentos como os Colégios CASEB, Elefante Branco, CIEM,
dentre outros tomados como referência em matéria de educação. Enfim, inúmeros
exemplos semelhantes podem ser lembrados em todo o Brasil.
Hoje a realidade é
totalmente diferente e presente no cotidiano de toda a população brasileira,
que se vê obrigada a imensos sacrifícios financeiros quando quer dar a seus
filhos uma educação de qualidade.
Na Saúde, o mesmo
acontece com os hospitais públicos, outrora bem equipados e hoje inteiramente
sucateados, onde falta tudo, desde médicos ao básico em matéria de
equipamentos, remédios e até material de higiene e limpeza.
No setor de transportes
nossas ferrovias foram totalmente abandonadas e nossas rodovias são o retrato
do desleixo a que foram relegadas.
A Segurança Pública
atualmente pode ser chamada, sem ironia alguma, de Insegurança Pública. Para
isso não precisamos consultar estatísticas. Basta sair às ruas, ou mesmo ficar
em casa, pois nem no recesso do lar, as pessoas se sentem tranqüilas!
Em resumo: o povo
brasileiro paga impostos altíssimos e não recebe NADA em troca.
Quando se aposenta após
ter contribuído, por muitos anos, para a Previdência Social, recebe migalhas para
sobreviver. A “nova classe média”, tão anunciada pelo Governo e meios de
comunicação, está pendurada junto aos bancos, tem dívidas enormes em todas as
modalidades de empréstimos, do consignado ao CDC, sem falar das impagáveis
dívidas do cheque especial e do cartão de crédito, com juros dignos de agiotas.
Andam em carros que não são seus, por serem financiados e estarem com cláusula
de alienação fiduciária. Se atrasam, por uns dias uma prestação do veículo são
acordados, bem cedo, com telefonemas ameaçadores das financeiras, que fazem
todo o tipo de pressão, menos entrar na Justiça para retomar o bem, pois sabem,
que lá terão os juros de seus empréstimos, questionados por qualquer juiz de
bom senso.
Por tudo isto não
acredito que possa haver um país rico, se seu povo é pobre e enfrenta enormes
dificuldades para sobreviver com alguma dignidade.