24.1.14

ATIVISTA DO "FAVELA NÃO SE CALA" CRITICA AS UPPS

Via Favela 247 -
Em resposta à fala do secretário estadual de Segurança Pública José Mariano Beltrame afirmando – em matéria para a Imprensa RJ e republicada pelo Favela 247 –, que os policiais das UPPs são "verdadeiros transformadores de cabeças, de mentes e corações", André Constantine, escreve artigo com críticas incendiárias às UPPs e à militarização das favelas; "O Estado burguês é fascista, e usa as UPPs com a intenção de implementar nas favelas um Estado Policial", diz ele. 

As UPPs são a militarização, são o controle social para a implementação de um Estado Policial nas favelas. As UPPs são uma militarização fascista. O que tem que se deixar claro é que as UPPs não são um projeto de segurança pública. As UPPs são, na verdade, protagonistas de um projeto de cidade. Uma cidade excludente para os pobres, elitizada e mercantilizada.
A polícia das UPPs é a mesma Polícia Militar criada na época do Império para matar e prender os escravos, coisa que essa mesma policia faz muito bem nos dias atuais. A favela hoje é uma senzala vigiada e monitorada 24h pelos capitães do mato, a mando dos senhores de engenho. As UPPs não trazem uma nova polícia, é a mesma polícia de sempre.
Depois do controle militar nas favelas, as UPPs passam a fazer também um controle social. Hoje são as UPPs que fazem a mediação entre as demandas das favelas e o poder público. Mas é importante lembrar que nas favelas existe uma entidade que se chama Associação de Moradores, uma entidade legitima, que nas favelas sempre fez a mediação entre os moradores e o poder público. Em nenhum outro lugar da cidade a policia faz essa mediação, exatamente porque esse não é o papel da polícia, só nas favelas é que isso acontece. O papel da polícia esta restrito à questão da segurança pública, coisa que as UPPs não cumprem, já que todos sabem que o varejista de drogas continua vendendo livremente seu produto ilegal nas favelas militarizadas.
O Estado burguês é fascista, e usa as UPPs com a intenção de implementar nas favelas um Estado Policial. Quando você vê um instrutor de judô que é policial, quando você vê um professor de inglês que é policial, quando você vê um professor de violão que é policial fica bem claro que a intenção é condicionar as crianças, público alvo dessas aulas, a se adaptar a esse Estado Policial, já que elas são mais suscetíveis.
Como disse o secretário Beltrame, a verdadeira intenção do Estado burguês com as UPPs é a de dominar “mentes e corações”, como foi a intenção dos Estados Unidos com a militarização do Vietnã. Por isso o movimento Favela Não se Cala pede o fim dessa militarização fascista já.
*Texto de André Constantine, 38 anos, morador do Morro da Babilônia e integrante do movimento Favela Não se Cala.