HELIO FERNANDES -
Ele, Jango e Carlos Lacerda morreram quase ao mesmo tempo,
com diferença de poucos meses. Tentaram
então, depois de dezenas e dezenas de anos, juntar os três numa morte
colegiada, conjunta, conspiratória. Motivo? A ditadura estava no final, o
pânico dos generais se chamava transição.
E esse pânico se materializava em três nomes, os únicos
capazes de se elegerem numa tentativa direta. Repetindo: eram JK, Jango,
Lacerda. É evidente que gostariam que os três não disputassem nenhuma eleição
depois do fim da ditadura. Se estivessem mortos, então, para os generais, que
maravilha viver.
Nenhuma dúvida a respeito dos desejos, intenções e ações da
ditadura, ainda no Poder. Eram capazes de tudo, mas incapazes de controlar e
coordenar o tempo, suprimindo os três personagens, que aqui dentro ou no
exílio, assustavam os generais assassinos, torturadores, autoritários, arbitrários,
atrabiliários.
Os fatos e a ficção
Portanto, fique bem claro: concordo inteiramente com as
possibilidades desses generais covardes e torturadores, planejarem e
assassinarem os três. Mas os fatos contradizem abertamente as versões, o tempo,
37 anos, não deixa que os poliglotas da desinformação, queiram conquistar o
espaço através dos holofotes que os iluminam.
Hoje tratarei apenas de Juscelino, está nas manchetes. E personagens
inteiramente desconhecidos surgem do nada, com a afirmação suntuosa mas
cambaleante: “Tenho certeza total que Juscelino foi assassinado”. E conta sua
versão adversa, que coleciona advertências.
A morte de Jango deu a ele “honras de chefe de Estado”.
Carlos Lacerda “passou mal do coração“ ao meio dia, morreu ás 7 da noite. Ficam
para depois.
JK: desprezo por
estrada, paixão por avião, sempre
Nessa “papelada” distribuída por um “grupo” que garante ter
“90 indícios, evidências, provas, testemunhas, circunstâncias, contradições,
controvérsias e questionamentos” (tudo textual mas sem nenhuma credibilidade),
esqueceram de explicar ou desenrolar um fato importantíssimo e esclarecedor: o
que fazia JK num carro na Via Dutra,vindo de São Paulo para o Rio com uma
passagem de avião no bolso ?
É preciso conhecer, definir e descodificar o personagem e a
personalidade do ex-presidente. Não gostava de perder tempo na estrada, seu
transporte preferido e praticamente exclusivo, era o avião.
Durante 1 ano, viajei praticamente diariamente de avião com
Juscelino. Quando me convidou para ser o homem de comunicação da sua campanha,
me confessou: “Helio, somos só nos três, eu, você e o Negrão (embaixador), que
vai presidir o comitê”.
E continuando: “Não existe o menor recurso, não há dinheiro
para nada, vamos correr o Brasil todo num DC-3
Constellation alugado pelo meu
cunhado. (Geraldo Lemos, casado com Dona Odete, irmã da Dona Sara). Aceitei na
hora, quando por lealdade fui comunicar a Lacerda, a contestação imediata:
“Você não pode aceitar”. A resposta: “Já aceitei“.
1 ano no avião
Novamente chamando a atenção: por que JK numa estrada, de
madrugada e com a passagem de avião no bolso? Expliquem, por favor. Viajamos
muito, um ano inteiro. Do final de 1954, ele ainda governador, até outubro de
1955, quando houve a eleição, a vitória, e o golpe (chefiado por Golbery e
Lacerda) para que não tomasse posse.
O espaço aéreo, o lar
de Juscelino
Mesmo ou principalmente com a advertência de JK, “não temos
dinheiro para nada”, conhecer o Brasil inteiro e por várias vezes, faz esquecer
qualquer compensação financeira. Basta este exemplo, entre centenas, mas altamente
elucidativo e que destrói todas as “afirmações“ desses que querem “assassinar“
JK, 37 anos depois da morte acontecida.
Íamos muito a São Paulo, obrigação eleitoral, que Brizola
desprezou e descumpriu em 1989, por isso não foi para o segundo turno. O espaço
do avião foi dividido em dois. Na parte da frente, só Juscelino. Na parte de
trás, três ou quatro pessoas, naquela época não havia a cobertura de hoje.
Agora o inacreditável mas rigorosamente verdadeiro: JK
botava pijama e dormia tranquilamente,mesmo nesse trajeto curtíssimo. É preciso
explicar que a aviação comercial estava começando. O primeiro vôo internacional
aconteceu em 1949, depois do fim da segunda Guerra Mundial. A viagem Rio-Nova
Iorque ou Rio-Paris, (e vice-versa) levava 36 horas, com duas paradas para
reabastecimento.
Rio-São Paulo durava 1 hora e 20 ou 1 hora e 30, o sonho não
imaginado mas consumado para o futuro presidente. Pelas “provas ”desses
“pesquisadores da eternidade”, além do “assassinato”, o tom maquiavélico. Não
atiraram diretamente no ex-presidente. Preferiram “acertar” o motorista, “sabendo
que não errariam”, o carro colidiria com um ônibus ou um caminhão, e o
ex-presidente morreria.
E tudo aconteceu como planejaram, ou como garantem que
planejaram. Na Via Dutra, um carro trafega no mínimo, no mínimo a 80 km/h. Pois
de madrugada, no escuro, eliminaram o motorista com um tiro na cabeça, o carro
se desgovernou, JK morreu de forma fulminante, com o choque. Nem o pessoal do
SNI planejava com tanta competência.
PS - Levaram 37 anos para juntar e divulgar tanta bobagem e
invencionice.
PS2 - Agora dão tudo como consumado. Mas não identificam um
nome, não acusam ninguém, querem apenas aparecer. Mas a verdade está soterrada,
e nesses 37 anos, não houve um só indício de que esse “assassinato” tenha
acontecido.