12.12.13

JUSCELINO FOI "ASSASSINADO" 37 ANOS DEPOIS DE MORTO

HELIO FERNANDES -

Ele, Jango e Carlos Lacerda morreram quase ao mesmo tempo, com diferença de poucos meses.  Tentaram então, depois de dezenas e dezenas de anos, juntar os três numa morte colegiada, conjunta, conspiratória. Motivo? A ditadura estava no final, o pânico dos generais se chamava transição.

E esse pânico se materializava em três nomes, os únicos capazes de se elegerem numa tentativa direta. Repetindo: eram JK, Jango, Lacerda. É evidente que gostariam que os três não disputassem nenhuma eleição depois do fim da ditadura. Se estivessem mortos, então, para os generais, que maravilha viver.

Nenhuma dúvida a respeito dos desejos, intenções e ações da ditadura, ainda no Poder. Eram capazes de tudo, mas incapazes de controlar e coordenar o tempo, suprimindo os três personagens, que aqui dentro ou no exílio, assustavam os generais assassinos, torturadores, autoritários, arbitrários, atrabiliários.

Os fatos e a ficção  

Portanto, fique bem claro: concordo inteiramente com as possibilidades desses generais covardes e torturadores, planejarem e assassinarem os três. Mas os fatos contradizem abertamente as versões, o tempo, 37 anos, não deixa que os poliglotas da desinformação, queiram conquistar o espaço através dos holofotes que os iluminam.

Hoje tratarei apenas de Juscelino, está nas manchetes. E personagens inteiramente desconhecidos surgem do nada, com a afirmação suntuosa mas cambaleante: “Tenho certeza total que Juscelino foi assassinado”. E conta sua versão adversa, que coleciona advertências.  

A morte de Jango deu a ele “honras de chefe de Estado”. Carlos Lacerda “passou mal do coração“ ao meio dia, morreu ás 7 da noite. Ficam para depois.

JK: desprezo por estrada, paixão por avião, sempre   

Nessa “papelada” distribuída por um “grupo” que garante ter “90 indícios, evidências, provas, testemunhas, circunstâncias, contradições, controvérsias e questionamentos” (tudo textual mas sem nenhuma credibilidade), esqueceram de explicar ou desenrolar um fato importantíssimo e esclarecedor: o que fazia JK num carro na Via Dutra,vindo de São Paulo para o Rio com uma passagem de avião no bolso ?

É preciso conhecer, definir e descodificar o personagem e a personalidade do ex-presidente. Não gostava de perder tempo na estrada, seu transporte preferido e praticamente exclusivo, era o avião.   
   
Durante 1 ano, viajei praticamente diariamente de avião com Juscelino. Quando me convidou para ser o homem de comunicação da sua campanha, me confessou: “Helio, somos só nos três, eu, você e o Negrão (embaixador), que vai presidir o comitê”.

E continuando: “Não existe o menor recurso, não há dinheiro para nada, vamos correr o Brasil todo num DC-3 Constellation alugado pelo meu cunhado. (Geraldo Lemos, casado com Dona Odete, irmã da Dona Sara). Aceitei na hora, quando por lealdade fui comunicar a Lacerda, a contestação imediata: “Você não pode aceitar”. A resposta: “Já aceitei“.

1 ano no avião

Novamente chamando a atenção: por que JK numa estrada, de madrugada e com a passagem de avião no bolso? Expliquem, por favor. Viajamos muito, um ano inteiro. Do final de 1954, ele ainda governador, até outubro de 1955, quando houve a eleição, a vitória, e o golpe (chefiado por Golbery e Lacerda) para que não tomasse posse.

O espaço aéreo, o lar de Juscelino

Mesmo ou principalmente com a advertência de JK, “não temos dinheiro para nada”, conhecer o Brasil inteiro e por várias vezes, faz esquecer qualquer compensação financeira. Basta este exemplo, entre centenas, mas altamente elucidativo e que destrói todas as “afirmações“ desses que querem “assassinar“ JK, 37 anos depois da morte acontecida.

Íamos muito a São Paulo, obrigação eleitoral, que Brizola desprezou e descumpriu em 1989, por isso não foi para o segundo turno. O espaço do avião foi dividido em dois. Na parte da frente, só Juscelino. Na parte de trás, três ou quatro pessoas, naquela época não havia a cobertura de hoje.

Agora o inacreditável mas rigorosamente verdadeiro: JK botava pijama e dormia tranquilamente,mesmo nesse trajeto curtíssimo. É preciso explicar que a aviação comercial estava começando. O primeiro vôo internacional aconteceu em 1949, depois do fim da segunda Guerra Mundial. A viagem Rio-Nova Iorque ou Rio-Paris, (e vice-versa) levava 36 horas, com duas paradas para reabastecimento.

Rio-São Paulo durava 1 hora e 20 ou 1 hora e 30, o sonho não imaginado mas consumado para o futuro presidente. Pelas “provas ”desses “pesquisadores da eternidade”, além do “assassinato”, o tom maquiavélico. Não atiraram diretamente no ex-presidente. Preferiram “acertar” o motorista, “sabendo que não errariam”, o carro colidiria com um ônibus ou um caminhão, e o ex-presidente morreria.

E tudo aconteceu como planejaram, ou como garantem que planejaram. Na Via Dutra, um carro trafega no mínimo, no mínimo a 80 km/h. Pois de madrugada, no escuro, eliminaram o motorista com um tiro na cabeça, o carro se desgovernou, JK morreu de forma fulminante, com o choque. Nem o pessoal do SNI planejava com tanta competência.

PS - Levaram 37 anos para juntar e divulgar tanta bobagem e invencionice.

PS2 - Agora dão tudo como consumado. Mas não identificam um nome, não acusam ninguém, querem apenas aparecer. Mas a verdade está soterrada, e nesses 37 anos, não houve um só indício de que esse “assassinato” tenha acontecido.