17.7.19

DODGE PASSOU DE OMISSA A CÚMPLICE DAS TRAPAÇAS DO DALLAGNOL

JEFERSON MIOLA -


Raquel Dodge reuniu-se nesta 3ª feira, 16/7, com Deltan Dallagnol e outros integrantes da organização criminosa [OrCrim] chefiada por Moro, como Gilmar Mendes nomeou a FT da Lava Jato. É o 1º encontro público da Chefe do MPF com o coordenador da Lava Jato desde a 1ª revelação dos conteúdos aterradores pelo Intercept, há quase 50 dias.

Até então, Dodge estava impavidamente omissa. Em vergonhosa omissão [aqui].

Estivesse o Brasil numa situação de normalidade institucional, com a Constituição e as Leis respeitadas e o Estado de Direito vigente, esperava-se, pelo menos, que “Delta” Dallagnol e seu comparsa de palestras “Robito” Pozzobon fossem notificados do afastamento dos cargos para responder sindicância, recebessem voz de prisão da Chefe e fossem conduzidos pelo japonês da Federal para a Penitenciária da Papuda para iniciarem cumprimento de pena.

Além disso, esperava-se que Dodge anunciasse solenemente aos demais integrantes da comitiva de Curitiba a mudança de padrão: uma vez reveladas novas provas documentais, os/as implicados/as em ilicitudes teriam o mesmo destino do “Delta” e do “Robito”.

O resultado do encontro, contudo, conseguiu ser mais vergonhoso que a omissão vergonhosa que Raquel Dodge vinha tendo em relação aos crimes cometidos por membros da sua corporação. Ao final, Raquel Dodge hipotecou “apoio institucional, financeiro e de pessoal ao combate à corrupção e ao crime organizado, para que a Força-Tarefa Lava Jato cumpra com integridade seus objetivos, […]” [nota MPF aqui].

Uma patética PGR ainda declarou, com uma dose formidável de hipocrisia, que o apoio à força-tarefa permite que “o patrimônio público seja preservado e que a honestidade dos administradores prevaleça” [sic].

Dodge aproveitou o cândido encontro para prestar conta aos membros da OrCrim sobre as “medidas adotadas […] quando surgiram os primeiros indícios de tentativa de invasão de aplicativos instalados em celulares funcionais utilizados por membros do MPF” [sic].

Ela quis demonstrar sua lealdade e sua solidariedade com as precauções adotadas:

– solicitou à PF abertura de inquérito “para apurar os responsáveis pelo crime cibernético”;

– “se manifestou no STF de forma contrária a pedido apresentado pela defesa do ex-presidente Lula, que reiterou – com base nas supostas conversas – pedido de anulação do julgamento que condenou o político”; e

– “enviou parecer ao STF para sustentar que a alegação de suspeição se ampara em fatos sobre os quais há dúvidas jurídicas e que o material publicado pelo site The Intercept Brasil ainda não foi apresentado às autoridades públicas para que sua integridade seja aferida”.

O corregedor-geral do MPF, Oswaldo José Barbosa Silva, presente à reunião, “ponderou que nunca houve um tentativa tão agressiva de minimizar o Ministério Público e, exatamente, por isso, a instituição enfrentará a situação de forma cuidadosa” – ou seja, mais coesa, compacta.

O corregedor-geral também tranquilizou os colegas de corporação informando-os que “4 representações com pedidos de apuração da conduta dos procuradores […] foram arquivados com base na ‘imprestabilidade da prova” [sic]. Ele ainda fez um apelo pela “unidade institucional do Ministério Público” – sabe-se lá o significado disso.

Oswaldo Barbosa, é necessário lembrar, é o procurador-fantoche que responde pelo órgão que tripudiado pelo “Delta” na conversa com Sérgio Moro, o Capo di tutti capi: “Não sei se você viu, mas as duas corregedorias – do MPF e do CNMP – arquivaram os questionamentos sobre minhas palestras dizendo que são plenamente regulares” [aqui], disse o deslumbrado caipira ao Capo.

Horas antes da nota da assessoria do MPF sobre o amigável encontro de Raquel Dodge com integrantes da organização criminosa, Oswaldo Barbosa havia acolhido novo pedido de investigação do PT sobre os procedimentos do “Delta”e do “Robito”.

Só o tempo dirá se o acolhimento é para valer, ou se é outra pantomima que vai resultar no 5º arquivamento de representação contra os colegas de corporação. A manifestação dele após a confraria corporativa favorece a aposta na hipótese da pantomima.

Raquel Dodge assumiu lado, que é o lado deplorável da História. Dodge tomou Partido da Lava Jato; se tornou cúmplice das trapaças do Dallagnol, e isso é mais vergonhoso que a omissão vergonhosa que ela vinha tendo em relação às denúncias aterradoras sobre práticas criminosas de integrantes da corporação que ela chefia.

Usando termos “técnicos” de Rodrigo Janot, o antecessor dela que, antes de acertar palestras com Dallagnol alertou que “teremos que falar sobre cachê”, é preciso perguntar a Dodge se ela ganhará cachê por assumir essa posição indecente, imoral e ilegal de apoio à organização criminosa comandada por colegas seus?

O cachê, por acaso, seria a promessa de recondução ao cargo de PGR; ou seria sua indicação para o STF, na vaga ocupada por Celso de Melo? O que não faltou a Dodge foram mostras de grande apego pela escalada na carreira.

Moro e Bolsonaro conhecem-na bem, e sabem que ela pode ser uma peça fundamental no aprofundamento da farsa da Lava Jato e na preservação do regime de exceção.

O acobertamento de crimes cometidos por membros da própria instituição quebra a confiança não só no Ministério Público, mas em todo sistema de justiça do país.

A Nota da Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão, órgão do MPF que atua na defesa dos direitos humanos, é um importante contraponto à posição vergonhosa da direção atual do MPF chefiada por Dodge [aqui].

É uma evidência de que o MPF não é um corpo totalmente infestado pelas práticas fascistas que violam as regras do Estado de Direito e promovem a barbárie.