18.11.18

POESIA - PLANETA DESALINHADO

MARCELO MÁRIO DE MELO -
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[Dos Poemas de Rondônia]

Trocam-se as mãos pelos pés
futuro vira revés
juntas todas derradeiras
tomam o lugar das primeiras
redemoinho em caudal
mistura de açúcar e sal
o mal retorcendo o bem
o aqui contra o além
o porém na reticência
a convulsão na dormência
noite clara escurecida
treva em tom de transtorno
desinício desretorno
fermento mandraravaz
guerra em trincheira de paz
fechados todos portões
as mil interrogações
sem poder se exclamar
pó de poesia no ar
marejando a estruvia
canto de cantalamia
beirando o estaramundo
o poço chegando ao fundo
a fronteira do contrário
a nuvem do imaginário
antecruzando a visagem
com a mala da viagem
dentro do dedo mindinho
o precipício no ninho
o tabu contrariado
o micróbio vacinado
o fel da escalangação
as desgraças no refrão
ração de desvitamina
a bola ralando a quina
esgulepando o calunga
tubarão fazendo tunga
no desalinho do planeta
paralisando a caneta
tudo fora do lugar
trilha de recomeçar
na trança desencontrada
ante a vida transtornada
não me animalarei
e não me zumbirarei
não fico depressivado
não estou arrogantado
vou contornado as estacas
não faço das camas macas
passarinho não é falcão
com o leme firme na mão
seguindo de olho aberto
vou buscando o rumo certo
atento a todos perigos
entre trincheiras e abrigos
olhando o tempo e o clima
jogando a bola pra cima
vendo a linha do horizonte
sempre fazendo a ponte
entre o antes e o depois
nesse feijão com arroz
preparando o caviar
lutar lutar e lutar
atento à roda da história
o futuro e a memória
atados em um só fio
nele se acende o pavio
sobre estes fundamentos
assento meus argumentos
mostrando as coisas reais
sem inventar nada a mais
o real tal qual existe
se nessa rota se insiste
sem deixar nada de lado
haverá bom resultado
numa avaliação
o sonho de pés no chão
feito pássaro no ninho
depois planando sozinho
somando e fortalecendo
semeando e colhendo
alargando mais a roda
regando e fazendo a poda
esta é minha agricultura
poesia em semeadura
plantar e frutificar
na lavra do libertar.