6.10.18

OS RISCOS DA DEMOCRACIA PARA O HOMEM COMUM

JOSÉ CARLOS DE ASSIS -


O homem comum e virtuoso, aquele que na Bíblia era chamado de temente a Deus, acredita que nada de extraordinário pode lhe ocorrer no curso de sua vida. Na sua opinião os grandes desastres naturais só acontecem aos outros. A eles próprios está reservado um tempo sem muitos sobressaltos. Como são incapazes de cometer crimes, acham que só aos homens maus ou de qualquer modo muito azarados podem acontecer crimes e outras desgraças.

O homem comum não acredita na emergência do nazismo numa forma atual. É capaz de se espantar e se horrorizar com as formas históricas do nazismo, mas imagina que isso nada tem a ver com os riscos atuais que cercam uma sociedade vulnerável à radicalização política. Cego, ele próprio, à radicalização e manipulação da mídia, é incapaz de reconhecer sinais de um desastre social iminente, mesmo quando ela bate a suas portas na pelo de um Bolsonaro.

O homem comum não distingue democracia de oportunismo. Ele vê a ascensão fascista como um movimento natural do processo dito democrático e não é capaz de preparar salvaguardas, entregando a si mesmo e à sociedade à sanha dos devoradores da liberdade. Não raro eles se aproveitam do ódio suscitado pelos fascistas para atacar seus próprios adversários ignorando que o adversário de agora pode ser o aliado de amanhã.

O homem comum é incapaz de ver que a bala atirada contra o outro na realidade é contra ele mesmo, e o crime que ficará impune contra o outro ficará impune também contra si mesmo. Na atmosfera de intransigência do nazismo, o homem comum perderá a proteção do Estado contra o crime e, ao contrário, verá o Estado voltar-se contra si mesmo mobilizando todos os instrumentos do totalitarismo ideológico, político e policial.

O homem comum acredita firmemente que entregando a segurança do país às Forças Armadas o problema do crime organizado estará resolvido a despeito do fracasso da intervenção federal no Rio de Janeiro. Também acredita que distribuindo mais armas à população os bandidos serão adequadamente combatidos, como se o mais provável seria a disseminação indiscriminada dessas armas, numa escala de extremo risco para o povo.

O homem comum acha natural que o Executivo do país se corrompa, que o Legislativo se venda e o aparelho judicial se torne um partido político sem escrúpulos, acreditando com isso que basta negar o processo democrático. Sim, porque para o homem comum, mesmo que não o saiba, a democracia é fundamental, e o pior que lhe poderá acontecer é a marcha inexorável do nazismo, que é o condutor das torturas e da morte.