ANDRÉ MOREAU -
O fim de parte do “foro privilegiado” dos deputados e senadores do Congresso Nacional, mas só dos deputados e senadores, não é aspiração das massas e sim, de falsos moralistas. Rasgando princípios que deixam deputados e senadores totalmente vulneráveis a todo tipo de chantagem, enquanto procuradores do Ministério Público Federal (MPF) e juízes de piso são alçados à posição de intocáveis, a direita controlará de vez a máquina pública.
Ao contrário do que disse o Ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Carlos Barroso, que a decisão é: “(...) simbolicamente importante porque ajuda a restringir um regime de privilégios em um momento em que a sociedade brasileira tem uma grande demanda por republicanismo e igualdade”, a medida esmaga a representação popular junto ao Congresso Nacional, possibilitando cassar ou proteger políticos, de acordo com os interesses das corporações empresariais e transnacionais.
Trata-se do gradual desmonte da Constituição aprovada em 1988, tornando mais espessa a cortina de fumaça da narrativa “anti-corrupção”, baseada no bem e no mal, mantendo refém o Poder Legislativo, visando promover ações da direita. Marca o papel do Poder Judiciário, de acordo com interesses dos empresários do consórcio que promoveram o golpe de estado, donos de jornais e revistas, concessionários de rádios, canais de televisão e da grande rede, ao estilo “Manda quem pode, obedece quem tem juízo”.
A reação dos desabrigados do edifício do Largo Paissandú no Centro de São Paulo, que colocaram o ilegítimo Michel Temer para correr, simboliza o que realmente quer o povo: a anulação do impeachment, sem mérito, da Presidenta Dilma Rousseff; a restauração dos direitos triturados com o desmonte da Consolidação das Leis do Trabalho e; a libertação do preso político Lula.
Ministros do STF não foram eleitos pelo povo. Foram nomeados para zelar pela Constituição e não para fazerem alterações que possibilitem o aumento do grau de chantagens contra deputados e senadores.
A medida é uma variação do “modus operandi” da “operação de mudança do sistema de governo”, visando reforçar o resgate de políticos aliados envolvidos em práticas criminosas, em primeira instância. E o processo de anulação do impeachment, sem mérito, chancelado pelo STF? Continuará engavetado no STF, até quando?
O povo que está nas filas dos postos do INSS para fazer perícia sabe as razões do “pente fino” da Previdência Social: cassar beneficiados antes da privatização da Previdência Social em detrimento dos trabalhadores idosos e com deficiência, mais pobres. Os trabalhadores sentem na pele os efeitos do desmonte da Consolidação das Leis do Trabalho que retirou direitos constitucionais, adquiridos há setenta e cinco anos atrás.
A redução do foro privilegiado coloca o falso moralista na mesma condição do cavalo maltratado de Paquetá – RJ, pintado no noticiário como “obsoleto”. A exploração do suposto maltrato acabou com uma tradição cultural das arborizadas ruas da Ilha, em poucas semanas: charretes, para favorecer dois ou três empresários. Veterinários se apressaram em falar em nome da proteção dos animais. E o cavalo de Paquetá virou cortina de fumaça no noticiário, encobrindo a implantação de motonetas movidas a eletricidade, no lugar das charretes daquele cenário de belas praias.
A manipulação discricionária do cavalo maltratado em Paquetá, serve para entendermos o “modus operandi” usado na “operação” do consórcio midiático que promove ministros do STF, procuradores do MPF e juízes de piso, em detrimento do povo.
Só o povo organizado pode acabar com o jogo pesado de ocultar ou “plantar” informações para neutralizar a reação popular com choques de “moralidade”, medo e terror, enquanto vendilhões ligados a diferentes esferas de poder faturam com a mudança da cultura ou do sistema de governo de acordo com interesses “liberais”.
Ao aplaudirem o foro limitado em nome da maioria da população ou da “opinião pública”, que ninguém vê ou ouve falar, os sabujos mantém intocáveis os guardiões dos interesses do império que prendeu Lula na masmorra para avançar com o plano de Estado mínimo.
Com Lula fora da disputa eleitoral, o golpe de estado será aprofundado de forma mais descarada. Se as eleições não forem canceladas, serão fraudadas. A partir desse raciocínio, podemos concluir mais uma vez que só com a resistência das massas será possível conter o plano de transformar o Brasil em uma colônia.
---
*André Moreau, é Professor, Jornalista, Cineasta, Coordenador-Geral da Pastoral de Inclusão dos "D" Eficientes nas Artes (Pastoral IDEA), Diretor do IDEA, Programa de TV transmitido pela Unitevê – Canal Universitário de Niterói e Coordenador da Chapa Villa-Lobos – ABI – Associação Brasileira de imprensa, arbitrariamente impedida de concorrer à direção nas eleições de 2016/2019.