31.10.16

POETAS E POESIAS: MARCELO MÁRIO DE MELO, ANTERO DE QUENTAL E DYLAN THOMAS

CULTURA -
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CIUMIDADES (Marcelo Mário de Melo)
A quem se destinou aquele olhar enviesado?
Foi mesmo casual o encontro com o/a colega?
Quem é o/a novo/a amiguinho/a. E qual o interesse?
Por que a amizade com um/a ex?
O amor anterior está mesmo zerado?
Não é suspeita tanta intimidade 
do/a amigo/a na sua casa? 
Como tecer ciúme sem briga nem intriga?
Como dançar melhor a dança da desconfiança?
Onde encontrar a segurança preventiva?
Qual o caminho para blindar o amor?

***
EVOLUÇÃO (Antero de Quental)

Fui rocha em tempo, e fui no mundo antigo
tronco ou ramo na incógnita floresta…
Onda, espumei, quebrando-me na aresta
Do granito, antiquíssimo inimigo…
Rugi, fera talvez, buscando abrigo
Na caverna que ensombra urze e giesta;
O, monstro primitivo, ergui a testa
No limoso paúl, glauco pascigo…
Hoje sou homem, e na sombra enorme
Vejo, a meus pés, a escada multiforme,
Que desce, em espirais, da imensidade…
Interrogo o infinito e às vezes choro…
Mas estendendo as mãos no vácuo, adoro
E aspiro unicamente à liberdade.

***


DYLAN THOMAS
A força que impele através do verde rastilho a flor
impele os meus verdes anos; a que aniquila as raízes das árvores
é o que me destrói.
E não tenho voz para dizer à rosa que se inclina
como a minha juventude se curva sobre a febre do mesmo inverno.

A força que impele a água através das pedras
impele o meu rubro sangue; a que seca o impulso das correntes
deixa as minhas como se fossem de cera.
E não tenho voz para que os lábios digam às minhas veias
como a mesma boca suga as nascentes da montanha.

A mão que faz oscilar a água no pântano
agita ainda mais as da areia; a que detém o sopro do vento
levanta as velas do meu sudário.
E não tenho voz para dizer ao homem enforcado
como da minha argila é feito o lodo do carrasco.

Como sanguessugas, os lábios do tempo unem-se à fonte;
fica o amor intumescido e goteja, mas o sangue derramado
acalmará as suas feridas.
E não tenho voz para dizer ao dia tempestuoso
como as horas assinalam um céu à volta dos astros.

E não tenho voz para dizer ao túmulo da amada
como sobre o meu sudário rastejam os mesmos vermes.


*Tradução: Fernando Guimarães.