11.9.16

POESIAS: PRAZO DE ESPERA; FRAGILIDADE E RESISTÊNCIA; COSTURA PARALELA; CHEGANÇA DE AMOR

MARCELO MÁRIO DE MELO -


PRAZO DE ESPERA
Mesmo que exceda
o tempo costumeiro das agendas 
toda espera 
tem limite.

Se não 
se faz 
prisão perpétua
purgatório 
corredor da morte em vida.

Convém ter a ciência 
sobre os prazos
nas esperas da vida.


***

FRAGILIDADE E RESISTÊNCIA
Às vezes 
se está nas últimas 
cansaço 
bagaço
sem 
linha 
traço 
espaço 
abraço.

Mas tendo de seguir em frente
trincar o dente 
soltar a lágrima

na solidão 
catar um fio de carinho 
a si
um copo d’água
nesga de ninho 
posto de passagem 
até a próxima hora 
de onde se espera 
que a dor e o desamparo 
vão embora.


***

COSTURA PARALELA
Viajar na invenção
sempre é melhor
do que mergulhar
na pasta cinza.

Catando cacos
construo coisas.
Polvilho purpurina
em cicatriz.

Amplio a réstia no espelho
e trato os rasgões da alma 
com jatos de luz

Penduro em móbiles
os fantasmas fronteiriços
ao lado 
das bonecas da aflição.

Do pó de cinza
faço argamassa
para tapar buracos 
no caminho.

E os pedaços
da roupa estragada
emendo 
numa colcha de retalhos.

Juntando ainda
trapos e farrapos
dou corpo à almofada
em que me aninho 
para o encontro mágico
com as musas.


***

CHEGANÇA DE AMOR
Amor 
não é flor ao descortino
acidente geográfico
bilhete de viagem
endereço na agenda
álbum
expedição submarina
safári
investimento na bolsa
jogo de oito erros
bilhete de loteria
pesquisa em dicionário
busca no gogle ou wize
exercício de adivinhação
mapa do tesouro
senha da caverna mágica.

O amor apenas 
ou 
a penas 
aparece

vaga-lume na estrada
vista na janela do trem
estrela nova 
luz que se acende
coceira
topada
visagem
visita inesperada

ou chega 
pré-semente de flor
que vai crescendo
e um dia pisca o olho.

Procura de amor
sonda em amor ausente 
são travas no caminho 
do amor nascente.