CARLOS CHAGAS -
Como previsto há meses, dará em nada essa nova tentativa de
realização da reforma política. Tanto faz se o presidente da Câmara
transferiu da Comissão Especial para o plenário a votação a respeito das
propostas. Nenhuma delas de importância fundamental obterá, nesta
semana, a maioria necessária para tornar-se lei. Os interesses são tão
conflitantes, nas bancadas e isoladamente, que sempre se registrarão
mais recusas do que aceitações. Discordâncias em número superior a
consensos. O impasse demonstra a multiplicidade de opiniões e torna
impossível qualquer aprimoramento institucional adotado pelos métodos
ortodoxos, em condições normais de temperatura e pressão. Chegamos a uma
situação oposta à que aconteceu na França antes do retorno do general
De Gaulle. Como não temos nenhuma colônia do tipo da Argélia para
impulsionar a roda do tempo, não há sinal de inusitados e explosões
capazes de gerar drásticas soluções.
CORTES NEBULOSOS
Mais do que nebulosos, os cortes ao orçamento sugeridos ontem pelo
governo, constituem a evidência de estar a presidente Dilma na situação
daquele cego perigosamente colocado no meio do tiroteio. Educação, saúde
e segurança foram atingidos, valendo muito pouco a informação de que o
lucro dos bancos será taxado em 20%, mais do que os 15% atuais. Porque a
diferença será logo transferida para os correntistas e depositantes.
Enquanto os juros não baixarem de forma drástica, de nada adiantarão
as manipulações de números e o corte de despesas em políticas públicas. A
presidente tentou reduzir o impacto de mudanças na legislação
trabalhista, mas não enganou ninguém. Perdeu o que poderia ter sido uma
oportunidade para continuar a governar, coisa que deixou de fazer logo
depois de reeleita. Ninguém governa para restringir.
Do seu próprio partido, o PT, assim como das centrais sindicais e de
associações da sociedade civil partem protestos diante do dito ajuste
fiscal. Para compensar, o governo anuncia taxar mais o lucro dos bancos,
mas impede qualquer restrição à evasão de recursos para o exterior. Em
suma, não é por aí que a economia irá recuperar-se. No reverso da
medalha, a redução de direitos trabalhistas, o aumento de impostos e
tarifas, bem como dos combustíveis, da energia elétrica, da água e dos
gêneros de primeira necessidade significam estar o tiroteio cada vez
mais acirrado, com Madame postada bem no meio.



