Por MARCO DAMIANI - Via 247 -
Não há mal-entendido, apesar de ter sido esta a alegação da
ex-ministra Marina Silva para a saída do coordenador de campanha Carlos
Siqueira. Assim como ele fez ontem, no momento seguinte após dizer à
candidata que rompia relações com ela, em reunião da cúpula do PSB,
nesta quinta-feira 21 o partido sofreu novas perdas. Todas elas
estratégicas, que haviam sido amarradas, uma a uma, pessoalmente, pelo
ex-governador Eduardo Campos.
Nas primeiras 24 horas de candidata a presidente, ainda que não tenha
registro no TSE e já tenha iniciado sua propaganda, Marina fez um
verdadeiro 'strike' em seu próprio time – expressão usada no boliche
quando o jogador derruba, com uma única jogada, todos os dez pinos de um
vez.
Puxador de votos do PSB em Minas Gerais, pelo fato de ser presidente
do Clube Atlético Mineiro, o empresário Alexadre Kalil desistiu de ser
candidato a deputado federal. Ele havia sido convencido por Campos a
disputar, mas agora não vou motivos para prosseguir:
- O que me interessava caiu de avião, disse Kalil, numa rude
referência, como é de seu estilo, ao acidente que vitimou o
presidenciável socialista.
No Mato Grosso do Sul, outro puxador de votos, o deputado federal
Nelson Trad anunciou que não há hipótese de pedir votos para Marina, em
razão de suas ligações históricas com o agronegócio de sua região e de
ela nem querer conversa com esse setor da economia.
Na mesma toada, o experiente governador André Pucinelli, verdadeiro
campeão de votos no Estado, anunciou que irá cerrar fileiras na campanha
da presidente Dilma Rousseff. Após uma série de conversas com Eduardo
Campos, ele se preparava para entrar na campanha do presidenciável do
PSB. Bastou, no entanto, Marina mostrar seu estilo que Pucinelli correu
para o outro lado.
Em Pernambuco, novo golpe. Depois que Siqueira deixou a coordenação
da campanha de Marina sob a alegação de ela ter sido "grosseira", na
mesma quinta 21 o indicado para ser seu substituto, Milton Coelho, não
aceitou assumir o cargo. E, ainda, deixou vaga a posição de coordenador
nacional de Mobilização e Articulação.
- Havia um pacto com meu querido amigo Eduardo Campos, mas minha
tarefa acabou aqui, justificou ele, lembrando que trabalhou para Campos,
em posições centrais, em três campanhas eleitorais.
A tomar-se pelo histórico de Marina Silva, as defecções não devem
causar surpresa. Eleita senadora pelo PT, ela deixou o partido atirando
depois de ocupar durante cinco anos, nas duas gestões de Lula na
Presidência da República, o Ministério do Meio Ambiente. Abrigada com
seu grupo no PV, obteve 17% dos votos válidos da eleição de 2010, mas
dois anos depois, com estardalhaço, saiu, com seus amigos, depreciando a
legenda. Partiu, então, para montar o Rede. Dependendo de seus próprios
esforços, no entanto, não foi feliz. Com falta de assinaturas em número
legal suficiente, apesar de ter desfrutado de quase um ano para atender
a legislação, Marina iria ficar fora da sucessão presidencial de 2014.
Mas Campos, com seu poder de articulação, a convenceu a entrar no PSB.
Mesmo dentro do partido, Marina gosta de declarar que estava presente
para ter novas condições, a partir de 2015, de montar o seu próprio: o
Rede Sustentabilidade.
Neste momento, além de estancar as sangrias que o estilo personalista de Marina vai causando no PSB, a cúpula do partido se esforça para que ela deixe de lado, ao menos no discurso, a ideia de mudar de agremiação logo no próximo ano.
Estar em uma legenda anunciado estar montando outra, no entanto, não é
a única contradição de Marina. Sua falta de tato para manter os acordos
firmados por Campos ainda irão provocar mais rachas no PSB. Apesar de
indicada, ela a candidatura dela ainda não foi oficializada no TSE - o
que faz com que muitos socialistas já queiram voltar atrás, apesar de a
campanha estar nas ruas.
Marina já avisou que não vai aceitar contribuições financeiras de
bancos e de indústrias de bebidas. O PSB contava com recursos de
doadores desses setores para alavancar a campanha da legenda. Mas agora
tudo é dúvida.
Certeza, apenas, o fato de Marina ter como principal coordenadora de
seu programa de governo, com 250 páginas, numa intersecção de propostas
do Rede e do PSB, por Neca Setúbal. Trata-se da herdeiro do maior banco
privado do País, o Itaú Unibanco. Para Marina, isso pode, mas não
conviver com quadros históricos o PSB não, isso não pode.
Na política, um histórico e um posicionamento como os de Marina têm
um só nome: divisionismo. Com este germe dentro de um partido, a unidade
é corroída por dentro. Nas suas primeiras 24 horas como candidata no
lugar de Campos, que, na mesma linguagem, pode ser chamado de unitário,
Marina mostrou que tem um poder destrutivo à altura, na direção
contrário, do que se espera que ela possa construir.
Política do tipo voluntarista e chamada de personalista, Marina resgata agora outro carimbo: divisionista.