8.10.18

POESIA: DANÇA E TRANÇA [CANÇÃO]

MARCELO MÁRIO DE MELO -
[C/música de Reginaldo Velozo]


Sob esse tempo cinzento
avesso a canto e dança
vamos colorir o sonho
na aquarela da esperança.
Vamos cantar e dançar
tratar dos fios da trança.

São fios embaraçados
muitos nós a desatar
folhas secas galhos podres
uma árvore a podar
a trança num corte curto
trança de recomeçar.

Em cinza e escuridão
o olho que é maduro
conhece o caminho das pedras
o andejar no escuro
seguindo trilha certeira
sem armadilha e monturo.

É esta a nossa missão
sempre em estado de alerta
engrossar o nosso caldo
manter a ciranda aberta
tentando dançar com todos
em quem o sapato aperta.

Não vamos nos encolher
e nem nos precipitar
não ficar dançando solto
meia dúzia a protestar
batendo na mesma tecla
e sem sair do lugar.

Vamos dançar e cantar
lançando nossos clamores
pois no teatro da vida
somos atrizes e atores
remontando sempre o palco
para remover as dores.

Dores nossas e de todos
sofrimento em romaria
muito pranto congelado
agressão à alegria
o cinza espesso enroscando
as raias do dia a dia.

Vamos procurar caminhos
de alargar a ciranda
multiplicar as mãos dadas
porque a dor é quem manda
é preciso enfrentá-la
e só enfrenta quem anda.

Não deixemos soterrar
nossa fonte de esperança
nossa água cristalina
nossa sede de mudança.
Vamos abrir a ciranda
e cuidar da nossa trança.

*Marcelo Mário Melo, é poeta, escritor, jornalista, intelectual pernambucano, ativista político. Nasceu em Caruaru, foi para o Recife com nove anos de idade. Integrou-se ao PCB aos 17 anos, foi fundador do PCBR em 1968, atuou na clandestinidade, teve a prisão preventiva decretada em 1970, foi preso político em Pernambuco de março de 1971 a abril de 1979. Filiou-se ao PT em 1980, desfiliou-se em 1990 e reintegrou-se em 1994, sem ter se ligado a nenhum outro partido no intervalo, “o que equivale a um segundo casamento com a mesma mulher”, como ele mesmo costuma dizer. Escreve principalmente poemas, histórias infantis, mini-contos e textos de humor.