14.2.16

A IMPORTÂNCIA DO ENCONTRO DO PAPA FRANCISCO E DO PATRIARCA KIRILL

Via Vila Vudu -


O chefe da Igreja Católica Romana papa Francisco se reuniu sexta-feira com o patriarca da Igreja Ortodoxa Russa Kirill no que se constitui no primeiro e único encontro entre os líderes de dois dos principais ramos do cristianismo desde que ambas se separaram em 1054, há quase um milênio. O interesse de Francisco no encontro estava claro desde pelo menos novembro de 2014, quando ao regressar de uma viagem a Istambul, revelou que havia falado por telefone com Kirill e que lhe havia dito: “Irei aonde quiser. Chama-me e eu vou”.

Finalmente o encontro se confirmou, porém não ocorreu em Moscou, nem em Roma ou outra capital européia, e sim em Havana, Cuba, onde ambos conversaram durante cerca de duas horas numa sala de reuniões especialmente montada no aeroporto internacional José Marti.

POR QUE EM CUBA?

Por que esses líderes religiosos decidiram encontrar-se em Havana, capital de um país que até 1992 era oficialmente ateu e que é o país com menos cristãos, proporcionalmente, da América Latina?

John Allen, editor associado de Crux, uma publicação do Boston Globe e autor de 10 livros sobre o Vaticano e temas do catolicismo, considera que na escolha do local houve uma parte de sorte e outra de estratégia.

“A parte da sorte tem a ver com que o patriarca russo já tinha previsto viajar a Cuba ao mesmo tempo que o papa Francisco iria ao México, de modo que resultava prático se verem ali. A parte estratégica tem a ver com o fato de que a relação entre ambas as igrejas está muito carregada pela história europeia”, explicou Allen. “Esta relação necessita de um novo começo, por isso a reunião não poderia ocorrer na Europa nem nos Estados Unidos. Cuba é uma excelente escolha porque é amistosa para a Igreja Católica porém também para a Rússia, porque foi o aliado mais próximo de Moscou no continente americano.”

Por seu lado, Vakhtang Kipshidze, porta-voz do Patriarcado de Moscou da Igreja Ortodoxa, afirmou que “Cuba é ideal porque é um país principalmente católico que tem uma comunidade ortodoxa em Havana. É um lugar igualmente hospitaleiro para todos. Em contraposição, a Europa está ligada a experiências negativas e dramáticas para ambas as comunidades religiosas”.

OUTRAS TENTATIVAS

O porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi, opinou que “no passado se tentou, sem êxito, conseguir esse encontro, nos tempos de João Paulo II e do patriarca Alexis II, levantando-se hipóteses de diferentes lugares na Europa, que é um continente muito complexo e com grande densidade histórica”.

Para John Allen, o fato de que Cuba seja percebida como um país majoritariamente secular contribui para a sua imagem de território neutro. “Encontrar-se ali não significa uma vitória do papa nem do patriarca. Simplemente decorre ser um lugar que para ambos resulta conveniente”.

Victor Gaetan, correspondente do National Catholic Register e colaborador da revista Foreign Policy, considera que a escolha de Cuba favorece o governo de Raúl Castro “ao posicionar Havana como um mediador entre Ocidente e Rússia. Pode dar a impressão que Francisco esteja fazendo concessões, todavia o que fica claro é sua disposição de cicatrizar uma ferida que já dura 1000 anos. Cuba significa um meio para alcançar um grande objetivo: a reconciliação”.

IMAGEM DE CUBA

Ted Piccone, analista do programa sobre América Latina do Brookings Institution, concordou que o encontro ajudará a melhorar a imagem de Cuba no exterior. “Cuba precisa reconstruir seu capital no estrangeiro agora que já não pode limitar-se simplesmente a queixar-se dos Estados Unidos. Quer construir a imagem de que é um ator conciliador diplomático neutro como tem sido nas negociações de paz entre a Colômbia e as FARC”.

A Secretaria Geral das Nações Unidas qualificou de histórico o encontro entre o papa Francisco e o patriarca Kirill. O porta-voz Stephane Dujarric assegurou que Ban Ki-moon se sente feliz pelo encontro na ilha caribenha.