CARLOS CHAGAS -
O PSDB reúne amanhã suas bancadas para debater a questão do impeachment da presidente Dilma. Mesmo sem sustentar que o pedido deve ser feito logo, Aécio Neves, presidente do partido, inclina-se pela iniciativa. Outros dois senadores, José Serra e Aloísio Nunes Ferreira, são contra, ainda que a maioria dos deputados se manifeste a favor. Geraldo Alckmin, governador, e Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente da República, não deverão estar presentes, apesar de engrossarem a ala dos que rejeitam a iniciativa, por falta de um fato concreto capaz de justificá-la. Já os favoráveis escudam-se na opinião do Tribunal de Contas da União, que identifica crime de responsabilidade por parte de Dilma, por haver maquiado números para equilibrar receita e despesa no governo, quando na realidade os cofres públicos ficaram no vermelho, nos dois últimos anos.
Pesquisa reservada feita junto à maioria do Congresso revela que a
maioria parlamentar não se sensibiliza pela proposta do impeachment,
coisa admitida mesmo pelos tucanos mais inclinados na tese do
afastamento da presidente da República.
Em suma, sem uma acusação direta e óbvia a respeito da probidade de
Dilma, a discussão sobre o impeachment continuará inócua. Servirá para
municiar os oposicionistas extremados mas redundará em nada.
A pergunta que se faz é se o PSDB ficará girando em círculos,
demonstrando que o debate envolve mais do que a por enquanto inviável
tentativa de afastamento da presidente. No caso, uma operação conduzida
pelos tucanos paulistas para enfraquecer o mineiro Aécio Neves, hoje o
líder da oposição e provável candidato ao palácio do Planalto em 2018.
Pretendem, os paulistas, recuperar a hegemonia da indicação
presidencial, eles que venceram com Fernando Henrique e perderam com
Geraldo Alckmin e José Serra.
Não deixa de espantar muita gente a centralização em torno do
impeachment. Mais do que ficar discutindo esse samba de uma nota só, os
tucanos precisariam desde já estar preparando uma alternativa de governo
para o desgoverno do PT. Acima e além, até, das denúncias de corrupção
que envolvem os detentores do poder, a hora seria de uma discussão
profunda a respeito do que fazer para o país recuperar-se do caos que
nos assola. O diabo é que são, por essência, neoliberais, sabendo que a
maioria da opinião pública rejeita as fórmulas de aumento de impostos,
desemprego, extinção de investimentos sociais e até redução de direitos
trabalhistas. A opção que não apareceu afugentaria, mais do que reuniria
o sentimento nacional. A conclusão é de que o PSDB continua enxugando
gelo e ensacando fumaça.
AJUDA IMPOSSÍVEL
Talvez bafejado pelos eflúvios sentimentais de nossos laços com
Portugal, em visita ao país de nossos avós o vice-presidente Michel
Temer declarou que a oposição serve para ajudar o governo a governar. Só
se for no reino dos sonhos. Primeiro porque os donos do poder jamais
aceitariam dividir a administração com seus adversários. Depois, porque
esses em momento algum concordariam em desgastar-se por conta da
incapacidade daqueles.
