Por LÚCIO FLÁVIO PINTO -Via blog do autor -
Xanxerê, no oeste de Santa Catarina, pode ter sido a primeira grande
vítima de um tornado na história do Brasil. Ventos extremamente fortes
cruzaram parte da cidade, no meio da tarde de ontem, danificando 2.600
casas, matando duas pessoas, ferindo outras 120, cinco delas em estado
grave, desabrigando mil moradores. Seis bairros foram praticamente
destruídos. Um terço da sua população, de quase 50 mil habitantes, foi
de alguma forma atingida. Uma autêntica tragédia. O município foi
declarado em estado de calamidade pública.
Qual a intensidade dos ventos? De forma precisa, ninguém sabe. Pode
ser sido de grau 2 e 3 numa escala que vai até 5. Não há uma medida
segura do fenômeno. Xanxerê, um dos mais importantes municípios da
região, possui uma estação meteorológica do Inmet, o instituto federal
do setor. Mas ela tem curto alcance. Não chega sequer até os bairros
atingidos pelo tornado. Mediu o vento numa velocidade cinco vezes
inferior ao máximo calculado nos locais por onde passou a ventania.
Sem essa retaguarda, a população ficou à mercê do fenômeno natural.
Com alguma previsão, mesmo sem chegar aos padrões de antecipação das
regiões que registram com frequência cataclismas naturais, os danos
seriam bem menores e talvez não houvesse vítimas fatais. Mas vida há
demais no Brasil. Qual a diferença de uma a mais ou a menos? Ou 10? Ou
mil?
A previsão para a recuperação da cidade vai de seis meses a um ano,
se o trabalho for eficiente e honesto. As vítimas das chuvas no Rio de
Janeiro aguardam pelas providências há três anos. Muitos dos que foram
servidos por alguma obra pública só têm motivos para reclamar da
qualidade do serviço. Depois da queda pela natureza, o coice pelos
humanos.
O Brasil não se prepara para enfrentar esses imprevistos da vida na
Terra nem para restabelecer as condições originais de vida dos seres
humanos prejudicados pelos fenômenos atípicos e graves. Se parece ter
ruído aquela antiga convicção de que, por ser brasileiro, Deus protegia o
nosso país das intempéries que assolam o mundo afora, como enchentes e
tornados, uma coisa não mudou: o despreparo, a irresponsabilidade e a
insensibilidade da elite dirigente brasileira. É ela que agora, quando
sofremos com acontecimentos trágicos, faz a diferença. Para pior.



