INFORMAÇÃO LIVRE

23.4.15

O TORNADO BRASILEIRO

Por LÚCIO FLÁVIO PINTO -Via blog do autor - 

Xanxerê, no oeste de Santa Catarina, pode ter sido a primeira grande vítima de um tornado na história do Brasil. Ventos extremamente fortes cruzaram parte da cidade, no meio da tarde de ontem, danificando 2.600 casas, matando duas pessoas, ferindo outras 120, cinco delas em estado grave, desabrigando mil moradores. Seis bairros foram praticamente destruídos. Um terço da sua população, de quase 50 mil habitantes, foi de alguma forma atingida. Uma autêntica tragédia. O município foi declarado em estado de calamidade pública.

Qual a intensidade dos ventos? De forma precisa, ninguém sabe. Pode ser sido de grau 2 e 3 numa escala que vai até 5. Não há uma medida segura do fenômeno. Xanxerê, um dos mais importantes municípios da região, possui uma estação meteorológica do Inmet, o instituto federal do setor. Mas ela tem curto alcance. Não chega sequer até os bairros atingidos pelo tornado. Mediu o vento numa velocidade cinco vezes inferior ao máximo calculado nos locais por onde passou a ventania.

Sem essa retaguarda, a população ficou à mercê do fenômeno natural. Com alguma previsão, mesmo sem chegar aos padrões de antecipação das regiões que registram com frequência cataclismas naturais, os danos seriam bem menores e talvez não houvesse vítimas fatais. Mas vida há demais no Brasil. Qual a diferença de uma a mais ou a menos? Ou 10? Ou mil?

A previsão para a recuperação da cidade vai de seis meses a um ano, se o trabalho for eficiente e honesto. As vítimas das chuvas no Rio de Janeiro aguardam pelas providências há três anos. Muitos dos que foram servidos por alguma obra pública só têm motivos para reclamar da qualidade do serviço.  Depois da queda pela natureza, o coice pelos humanos.

O Brasil não se prepara para enfrentar esses imprevistos da vida na Terra nem para restabelecer as condições originais de vida dos seres humanos prejudicados pelos fenômenos atípicos e graves. Se parece ter ruído aquela antiga convicção de que, por ser brasileiro, Deus protegia o nosso país das intempéries que assolam o mundo afora, como enchentes e tornados, uma coisa não mudou: o despreparo, a irresponsabilidade e a insensibilidade da elite dirigente brasileira. É ela que agora, quando sofremos com acontecimentos trágicos, faz a diferença. Para pior.