23.4.15

A FAVELA COMO PARAÍSO TROPICAL

ALCYR CAVALCANTI -

Favelas: PARAÍSO TROPICAL OU INFERNO ASTRAL? 
PARA SERGIO CABRAL "UMA FÁBRICA DE MARGINAIS"
A FAVELA É UMA EXIGÊNCIA DA ESTRUTURA SOCIAL BRASILEIRA
(José Artur Rios)


A tentativa de mostrar as favelas cariocas às vezes como um paraíso tropical, exemplo o morro da Babilônia, ás vezes como um inferno astral no caso da Nova Brasília, vem demonstrar uma falta de conhecimento ao analisar esses conglomerados urbanos, também conhecidos como comunidades.

Desde a primeira em 1897 no Morro da Providência no Centro do Rio, que o preconceito predomina, elas seriam foco de doenças, reduto da marginalidade e fonte de todos os vícios. Vem também desta época o descaso e a falta de interesse dos governantes, sejam eles pertencentes à qualquer grupamento político. Para os que estão no poder as favelas sempre se constituíram em um problema, para os despossuídos uma solução para a falta de interesse em resolver o problema de onde morar. Para José Artur Rios ela "é uma exigência da estrutura social brasileira" No Rio de Janeiro são mais de mil, com tendência a crescer ainda mais, devido ao desemprego, à falta de uma política habitacional, sistema de transportes ineficiente e mais uma série de fatores que vamos deixar para uma outra análise. Em quase todas elas a característica é a falta de saneamento básico, a invasão de terreno público ou privado e construções irregulares, muitas vezes em áreas de risco. Em discurso feito em 25/10/2007 Cabral, então governador preocupado com altos índices de criminalidade tomando como exemplo a Rocinha disparou :"É uma fábrica de marginais" devido aos altos índices de natalidade, e pregou radical controle  comparando a localidade à Zâmbia ou Gabão.  A solução para os governantes tem sido a repressão, a mudança de costumes a "entrada da civilização para a expulsão da barbárie". Com as promessas do Programa de Aceleração do Crescimento-PAC parecia que  tudo ficaria resolvido, de inferno tudo se transformaria em paraíso, como num golpe de mágica. Ao mesmo tempo vieram as Unidades de Policia Pacificadora-UPP que viriam para trazer a tão almejada paz. Pouca coisa foi feita, algumas  favelas foram invadidas e ocupadas por militares, mas as promessas em sua maior parte não saíram do papel. Tiroteios tem sido diários, a disputa por controle de venda de drogas a varejo continua, balas perdidas têm endereço atingindo inocentes, na maioria das vezes crianças que simplesmente brincavam, como no caso de Eduardo de Jesus de 10 anos.

A tentativa agora é usar o belo visual das localidades para centros de turismo, mais acessível aos milhares de turistas que agora estão chegando à cidade para os megaeventos, desde a visita do Papa Francisco em 2013. Como no sistema existem curiosas contradições, os moradores são obrigados a sair de locais onde construíram suas vidas, para moradias distantes do exíguo mercado de trabalho. A tentativa de erradicar as favelas da Zona Sul tornou-se inviável devido à imensa população. Agora vai vigorar um processo seletivo, onde os mais fortes, ou mais aptos vão permanecer. A fria e implacável especulação imobiliária, um dos pilares do capitalismo tardio vai prevalecer, e os morros vão ser tomados pelos donos do capital, em um processo seletivo.  Tudo vai ser transformado em um paraíso tropical cenográfico, ao estilo fábrica dos sonhos, embora a realidade seja bem outra, muito diferente. A antropóloga norte-americana Janice Perlman tem uma obra muito importante para a questão, "O Mito da Marginalidade", da qual cito pequeno trecho que me parece bastante apropriado: "Os mitos solidamente arraigados servem para fundamentar crenças pessoais e interesses da sociedade, e também para dificultar análises aprofundadas que viriam a desmistificar conceitos (e preconceitos) que continuam como verdades imutáveis, moldando políticas públicas que afetam diretamente as populações das favelas e periferias urbanas".