CARLOS CHAGAS-
Quando liderava os metalúrgicos do ABC, promovia greves e até foi
parar na cadeia, o Lula afirmava: “não basta aumentar salários, é
preciso mudar o regime”. Referia-se, por certo, ao regime militar então
no poder. O tempo passou, os generais voltaram para o quartel, o
sindicalista fundou o PT e a CUT, virou presidente da República e até
elegeu a sucessora.
E o regime? Vale a lição do passado: é preciso mudá-lo. Jamais com a
volta dos militares, mas os trinta anos da Nova República que agora se
completam conduzem à evidência da necessidade de mudanças profundas. Em
especial depois da posse do Lula e da ascensão dos companheiros,
generalizou-se a concepção de serem os governantes os donos do Estado.
As instituições estão a serviço deles. Não são eles que servem. Servem-se. Acham natural usufruir das estruturas públicas como coisa
privada.
Tome-se as mais recentes denuncias de corrupção, atingindo os fundos
de pensão das empresas estatais. Para dirigi-las, primeiro o Lula,
depois Madame, indicaram representantes em grande maioria do PT. Do
palácio do Planalto e dos ministérios seguiam e ainda seguem ordens
para aplicação dos bilhões arrecadados pela contribuição dos
funcionários. Geralmente para ajudar empresas em dificuldade ou para
apoiar programas e iniciativas à beira do colapso. Péssimos
investimentos, quase sempre, mas cumpridos à risca. Resultado é que,
para evitar a falência, os fundos de pensão dos funcionários da
Petrobras, Banco do Brasil, Caixa Econômica, Correios e Furnas estão
aumentando a contribuição daqueles que na realidade deveriam dirigir
os empreendimentos para garantia de melhores aposentadorias.
A confusão é entre o público e o pessoal. Botar os ladrões na
cadeia torna-se essencial, mas não basta se as coisas continuarem de
acordo com teoria e prática do regime vigente. No caso específico dos
fundos de pensão, os funcionários é que deveriam geri-los diretamente.
Não se chegará ao exagero de supor a supressão do Estado, substituído
pelas corporações, mas estender-lhes o controle de suas atividades pode
ser um bom começo. O que tem a ver a presidência da República com a
decisão de trabalhadores de uma determinada empresa de se cotizarem para
auferir, na aposentadoria, rendimentos superiores aos oferecidos pela
Previdência Social?
TERÁ SIDO PARA VALER?
Os beijinhos, a condecoração e depois o jantar íntimo no palácio
da Alvorada esfriaram os ânimos belicosos entre a presidente da
República e o presidente da Câmara? Até pode ser, mas o provável é que
Madame e o deputado mantenham suas divergências, não apenas em função
da independência parlamentar, mas por conta do processo sucessório de
2018. Se tivesse senso de humor, Dilma poderia ter mostrado à esposa de
Eduardo Cunha os amplos salões da residência oficial com o comentário
de que ela poderia estar visitando sua futura morada...
