CARLOS CHAGAS -
Antes de suceder, pois apenas substituía Fernando Collor, o até então
pouco conhecido Itamar Franco tomou a única decisão capaz de
sustentá-lo na presidência da República e manter as instituições
funcionando: reuniu os líderes de todos os partidos e disse que, sem a
união de todos, o país se desmancharia. Queria uma união nacional de
emergência para evitar o caos iminente, a começar pela inflação
galopante, passando pelo descrédito do Poder Executivo.
Obteve o apoio geral, exceção do PT, para a formação de um ministério
em condições de enfrentar os gigantescos desafios postos em suas mãos.
Só o Lula ficou contra, obrigando os companheiros a saltarem de banda
diante do dramático apelo. Luiz Erundina, convidada para a área social,
aceitou e desligou-se do PT.
O esforço acabou dando certo, Itamar inscreveu-se como o melhor
presidente da Nova República, e determinou que Fernando Henrique, meio a
contragosto, encomendasse o Plano Real, que acabou com a inflação. No
fundo de tudo estava a colaboração que as forças político-partidárias
emprestaram ao apelo presidencial.
Deputados e senadores não eram diferentes dos atuais. Entre eles
havia gente de primeiro nível, assim como vigaristas no extremo oposto,
destacando-se a grande maioria silenciosa, que sem ser brilhante,
percebeu a oportunidade de contribuir para um período duro, mas.
O MAIOR TESOURO
Já se escreveu ser o passado o nosso maior tesouro, pois nele
encontramos as lições para construir tanto quanto para evitar. O governo
Dilma só tem uma saída, perdido que está em situação muito parecida com
a que Itamar encontrou. Ou toma a iniciativa de reunir as forças
dispersas e conflitantes ao seu redor ou mergulha no precipício onde já
começa a escorregar.
Torna-se necessário que a presidente, com o Lula à retaguarda, comece
mudando tudo, depois de reunir os dirigentes de todos os partidos: um
novo ministério, um programa de recuperação econômica voltado para o
crescimento, não para a recessão, o combate total à corrupção, a
extinção das barganhas partidárias em troca de nomeações, a convocação
dos diversos setores nacionais, dos sindicatos ao empresariado, ao
Judiciário, aos governadores e prefeitos, à inteligência, à
universidade, às religiões e até aos militares.
Esse apelo, a exigir humildade, não arrogância, precisa ser feito
diante da alternativa: ou união ou caos. A desagregação está a um passo
de todos nós. Madame foi reeleita para mais quatro anos e a premissa
surge clara: ou muda tudo em busca da união nacional ou não chegará ao
final do ano como presidente da República.
O exemplo de Itamar Franco está à vista de todos. Pode ser seguido ou rejeitado. Depende dela.
