CARLOS CHAGAS -
Os mais velhos lembrarão da antiga UDN, União Democrática Nacional,
de importantes serviços prestados à causa democrática, como também
responsável pelas páginas mais constrangedoras de nossa história. Um
partido igual a todos os demais, com luminares da cultura e da política
mesclados a vigaristas empenhados em desconstruir as instituições
republicanas.
A única vez em que a UDN chegou ao poder, de 1945 à extinção dos
partidos, em 1965, foi quando utilizou a máscara de um farsante
empenhado em tornar-se ditador. Jânio Quadros chegou a ser apresentado
como “a UDN de porre”. Sua renúncia conduziu o partido outra vez à
corrente do golpe militar, tendo as coisas dado onde deram: vinte e um
anos de exceção e repressão. Carlos Lacerda foi seu principal porta-voz
ao pregar a desconstrução democrática.
Por que se recorda um passado que já saiu pelo ralo? Porque as
características da velha UDN estão ressurgindo em outra legenda. O PSDB
cada vez mais copia as experiências e o modelo de sua ancestral, seja
por estar afastado do poder, seja por sua linguagem descontrolada e pela
presença, ao lado de cidadãos da maior probidade, de ostensivos
golpistas empenhados em reviver um regime a serviço das elites.
Concordará quem assistiu, ontem, o programa de propaganda partidária
gratuita dos chamados tucanos, em cadeia nacional de rádio e televisão.
Fernando Henrique Cardoso mais parecia um Carlos Lacerda em compota,
pregando a deposição de um governo que, apesar de erros e desvios
flagrantes, foi eleito democraticamente pela maioria do eleitorado. Ruim
com Dilma, Lula e o PT, pior com o sociólogo fixado no objetivo de
retornar ao governo, agora através do golpe. Ao dizer que “nunca na
história desse país se roubou tanto em nome de uma causa”, deixou clara a
disposição de apoiar o impeachment da presidente, mesmo sem coragem
para referi-la abertamente.
Foi assim que a UDN lançou-se na tentativa de deposição de Getúlio
Vargas e, depois,de João Goulart. Tudo porque carecia de votos e de
respaldo das massas voltadas para a justiça social. O fenômeno, agora, é
parecido. Havia corrupção nos governos do PTB, por certo que não no
nível do PT, mas demolir as estruturas democráticas em nome de
combatê-la jamais foi solução.



