Por LUIS NASSIF - Via Jornal GGN -
Há dois tipos de leitores de jornais: os que querem se informar, e os que querem ler apenas aquilo que lhes agrada. Os primeiros, são leitores; os segundos, torcedores.
Nos últimos anos, os grandes grupos jornalísticos abriram mão dos leitores. A
notícia tornou-se uma ferramenta de guerra, que, como em toda guerra, pode ser
estuprada, manipulada, distorcida.
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Há inúmeros temas relevantes para se criticar Dilma, Lula e o PT: os erros da
política econômica, o envelhecimento das ideias, a falta de propostas novas, o
aparelhamento de muitas áreas, os problemas enfrentados pela Petrobras.
Mas, aparentemente, entre Pulitzer e William Randolph Hearst – o pai do
jornalismo marrom -, a grande imprensa brasileira escolheu o segundo.
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O Estado de S. Paulo, o augusto Estadão, que historicamente se colocava como um
baluarte conservador, mas respeitador dos fatos, divulgou em sua versão online
a manchete de que a Petrobras destruira gravações de reuniões do Conselho de
Administração para sumir com provas.
O repórter entregou uma matéria responsável. Consultou dois diretores que lhe
asseguraram que não era hábito, mesmo, guardar gravações de reuniões de
Conselho. Serviam apenas para instruir as atas. Depois das atas escritas, as
gravações eram destruídas. Só depois que estourou a Lava Jato é que decidiu-se
preservar as gravações, caso houvesse necessidade.
Ao longo do dia, a manchete foi desmentida por diversos veículos online. No dia
seguinte, na edição impressa, manteve-se o enfoque errado.
Em outros tempos, poucos saberiam. Na era da Internet, o erro já tinha se
espalhado. Ao insistir em mantê-lo os editores expuseram o jornal e sua
história a milhares de leitores que já tinham conferido os desmentidos.
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O mesmo aconteceu com a revista Época, em conluio com procuradores da República
do Distrito Federal.
Desde que saiu da presidência, Lula assumiu o compromisso público de
aproximar-se da África e trabalhar negócios brasileiros por lá. Por seu lado,
há décadas a Construtora Odebrecht investiu na área e em outros países
emergentes. Hoje em dia, atua em 28 países construindo todo tipo de obra.
Finalmente, há décadas o BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e
Social) dispõe de uma linha de financiamento às exportações de produtos e
serviços, o Proex, da qual o maior cliente – por ser a empreiteira brasileira
com mais obras no exterior – é a própria Odebrecht.
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No entanto, procuradores irresponsáveis foram investigar as obras da Odebrecht
no exterior e montaram um inquérito com base nos seguintes fatos:
Lula visitou Gana e dois meses depois a Odebrecht conquistou um projeto por lá.
Os procuradores tentaram criminalizar o que se tratava de uma estratégia bem
sucedida. E ligaram a visita de Lula ao fato da Odebrecht ter conseguido um
financiamento do BNDES – sendo que ela já tem 35 financiamentos, para suas
obras internacionais.
Esse conluio mídia-procuradores teve repercussão em todos os jornais.
Os jornais atingiram seus objetivos políticos. Mas o jornalismo saiu mais uma
vez sangrando do episódio. E mostrou que não há diferença mais entre blogs
partidários e jornais.
