INFORMAÇÃO LIVRE

4.5.15

A PERIGOSA ALIANÇA ENTRE A INGOVERNABILIDADE E O IMPEACHMENT

CARLOS CHAGAS - 


A sombra de duas derrotas assusta o governo e despertará, como conseqüência, o peso da  ingovernabilidade. Serão letais tanto a rejeição das medidas provisórias do ajuste fiscal pela Câmara quanto, pelo Senado,  do nome indicado para novo ministro do Supremo Tribunal Federal.

No primeiro caso,  os deputados começam esta semana a apreciar a redução de direitos trabalhistas, desde o seguro-desemprego ao abono  salarial e à  extinção das pensões para viúvas com menos de 40 anos. A mobilização nos partidos é grande, encontrando-se todos rachados,  inclusive o PT.  As centrais sindicais pressionam para os deputados não aceitarem a diminuição de direitos trabalhistas consagrados faz muito. A base parlamentar do governo,  desunida, pode não garantir a aprovação.

Quanto à não aprovação do  nome do dr. Fachin  pelos senadores, defendida pelo presidente do Senado, vai demorar um pouco mais, provavelmente estendendo-se até o final do mês. Será explosiva, se acontecer.

Na hipótese das duas derrotas, ficará claro que  a presidente Dilma precisará governar sem o apoio do Congresso, missão  impossível em tempos de democracia.   A situação, mesmo às avessas, lembra o período final do governo João Goulart.  Naqueles idos o presidente enfrentava os setores conservadores, contrários à reforma agrária e demais reformas de base. Optou por estabelecer as mudanças por atos do Executivo,  despertando ainda maiores reações no Legislativo. No fundo do confronto conspiravam as elites econômicas e os militares, com forte penetração da   classe média. Madame ainda não se decidiu a bater cabeça com o Congresso, ainda que disponha de mecanismos para impor a recessão acima e além de deputados e senadores. Se o fizer,  faltando  na equação a presença dos militares, enfrentará a classe média mesclada aos setores sindicais.

A verdade é que o governo caminha célere para deixar de governar, caso não  encontre para a crise econômica remédio melhor do que sacrificar a população. Os efeitos já  se fazem sentir no aumento de preços, taxas e tarifas, com a redução do poder aquisitivo dos salários.

O fantasma do impeachment ainda não assusta, mas continuando as coisas como vão, logo dará as mãos à ingovernabilidade. Uma  aliança perigosa. Quem anda de olho na crise é o Lula, disposto a ajudar a sucessora mas trabalhando em paralelo para preservar-se como candidato em 2018. Mesmo assim, já não são poucos os companheiros soprando em seus ouvidos que “pode não dar tempo”.  A ingovernabilidade e o impeachment funcionariam como antecipação do processo sucessório, em especial  se  Dilma e o seu vice se dispusessem a renunciar, possibilidade por enquanto  inviável,  mas,   em termos de História do Brasil, factível.

A pergunta que fica é se o retorno do primeiro companheiro  adiantaria para desatar o  nó em que  nos encontramos. Há quem julgue que não,  porque ele, afinal, tem muita  responsabilidade no que vai acontecendo. Precisaria pedir mais sacrifícios sem a compensação de distribuir benesses. Perderia a característica que o elevou ao poder.