CARLOS CHAGAS -
A sombra de duas derrotas assusta o governo e despertará, como
conseqüência, o peso da ingovernabilidade. Serão letais tanto a
rejeição das medidas provisórias do ajuste fiscal pela Câmara quanto,
pelo Senado, do nome indicado para novo ministro do Supremo Tribunal
Federal.
No primeiro caso, os deputados começam esta semana a apreciar a
redução de direitos trabalhistas, desde o seguro-desemprego ao abono
salarial e à extinção das pensões para viúvas com menos de 40 anos. A
mobilização nos partidos é grande, encontrando-se todos rachados,
inclusive o PT. As centrais sindicais pressionam para os deputados não
aceitarem a diminuição de direitos trabalhistas consagrados faz muito. A
base parlamentar do governo, desunida, pode não garantir a aprovação.
Quanto à não aprovação do nome do dr. Fachin pelos senadores,
defendida pelo presidente do Senado, vai demorar um pouco mais,
provavelmente estendendo-se até o final do mês. Será explosiva, se
acontecer.
Na hipótese das duas derrotas, ficará claro que a presidente Dilma
precisará governar sem o apoio do Congresso, missão impossível em
tempos de democracia. A situação, mesmo às avessas, lembra o período
final do governo João Goulart. Naqueles idos o presidente enfrentava os
setores conservadores, contrários à reforma agrária e demais reformas
de base. Optou por estabelecer as mudanças por atos do Executivo,
despertando ainda maiores reações no Legislativo. No fundo do confronto
conspiravam as elites econômicas e os militares, com forte penetração
da classe média. Madame ainda não se decidiu a bater cabeça com o
Congresso, ainda que disponha de mecanismos para impor a recessão acima e
além de deputados e senadores. Se o fizer, faltando na equação a
presença dos militares, enfrentará a classe média mesclada aos setores
sindicais.
A verdade é que o governo caminha célere para deixar de governar,
caso não encontre para a crise econômica remédio melhor do que
sacrificar a população. Os efeitos já se fazem sentir no aumento de
preços, taxas e tarifas, com a redução do poder aquisitivo dos
salários.
O fantasma do impeachment ainda não assusta, mas continuando as
coisas como vão, logo dará as mãos à ingovernabilidade. Uma aliança
perigosa. Quem anda de olho na crise é o Lula, disposto a ajudar a
sucessora mas trabalhando em paralelo para preservar-se como candidato
em 2018. Mesmo assim, já não são poucos os companheiros soprando em seus
ouvidos que “pode não dar tempo”. A ingovernabilidade e o impeachment
funcionariam como antecipação do processo sucessório, em especial se
Dilma e o seu vice se dispusessem a renunciar, possibilidade por
enquanto inviável, mas, em termos de História do Brasil, factível.
A pergunta que fica é se o retorno do primeiro companheiro
adiantaria para desatar o nó em que nos encontramos. Há quem julgue
que não, porque ele, afinal, tem muita responsabilidade no que vai
acontecendo. Precisaria pedir mais sacrifícios sem a compensação de
distribuir benesses. Perderia a característica que o elevou ao poder.
