INFORMAÇÃO LIVRE

20.5.15

O DEDO CHINÊS

Por LÚCIO FLÁVIO PINTO - Via blog do autor - 


Todas as atenções se concentraram ontem no Palácio do Planalto, em Brasília. A presidenta Dilma Rousseff e o primeiro-ministro da China, Li Keqiang, se encontraram para acompanhar o lançamento da pedra fundamental do sistema de transmissão da energia da hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu, no Pará, por dois mil quilômetros, até Estreito, em Minas Gerais. A linha será construída pela chinesa State Grid em consórcio com as estatais brasileiras Eletronorte e Furnas.

A obra é no valor de cinco bilhões de reais e dá partida a um programa de investimento chinês previsto para alcançar R$ 53 bilhões nos próximos anos. É uma injeção de dinamismo esperada pelo governo brasileiro e pelo empresariado nacional, principalmente porque boa parte das inversões será em projetos logístico. O país continua muito carente de infraestrutura para sua atividade produtiva.

Um detalhe, porém, parece ter passado despercebido à imprensa nacional, que cobriu o acontecimento. A linha, na mais alta tensão de todo sistema de transmissão, em 800 kV, só entrará em operação em 2018. Mas a previsão é de que Belo Monte comece a gerar energia dois anos antes, no início de 2016. Quando contar com a nova linha, poderá enviar para o sul toda sua produção firme, de pouco mais de 4 mil MW, de uma potência total – mas nominal – de 11,3 mil MW (só alcançável no pique do inverno).

Mesmo com as modificações feitas no mercado de energia, foi mais ou menos como a partida de Tucuruí, 30 anos atrás. Como o Pará não se preparou para absorver o máximo de energia, que podia ser conseguido pela formação de um parque siderúrgico completo, a maior parte da energia acabou sendo transferida para outros Estados, onde na transformação industrial é mais intensa.

Continuando a ser um produtor de matérias primas, o Pará se consolidou colonialmente também como província energética. É o terceiro maior exportador de energia bruta do Brasil. Com Belo Monte, que nova posição ultrajante ocupará?