Por ALBERTO DINES - Via Observatório da Imprensa -
Sucesso editorial ímpar, a Vejinha
– o encarte de serviços que circula na Paulicéia e em outras praças do
país – raramente ultrapassa os limites que se impôs. Às vezes, porém, o
material colhido é tão rico, tão bem escrito e documentado que mereceria
estar na revista-matriz.
É o que aconteceu com a edição de 20/5 e a reportagem “Ah, se esse
altar falasse” (págs. 28-30), primorosa peça mundana, elegantemente
irônica, que os comentaristas políticos dos jornalões adorariam ter
escrito se tivessem liberdade para tirar a política da redoma onde foi
enfiada e mofa, ininteligível.
Na realidade, comemorava-se uma relação que, embora discutida todas as noites, resiste impávida há dez anos protagonizada pelo famozérrimo cardiologista das zelites,
consultor terapêutico e espiritual dos alérgicos e gripados, Dr.
Roberto Kalil, com a estrelíssima endocrinologista Dra. Cláudia Cozer.
Compareceram ao suntuoso Leopolldo, no nova-iorquino bairro do
Itaim-Bibi (a Ilha Fiscal da Paulicéia Desvairada), nossa magérrima
presidenta, o neo-obeso ex-presidente, chefes do Legislativo,
cochichando com a mão na boca como manda o figurino global, governador,
ex-governadores, prefeito, ex-prefeitos, ministros palacianos e de
segunda linha com crachás porque ninguém lembra os nomes, também
ex-primeiras-damas de diversas esferas e poderes, extraordinariamente
assemelhadas. Convidado, Roger Abdelmassih não compareceu.
Festança histórica
Esquerda, radicais, centro-direita, milicianos da Opus Dei abraçados a
evangélicos, católicos de diferentes ordens irmanados num evento
civilizado, rigorosamente ecumênico e sincrético, verdadeira união
nacional para exibir a estabilidade das nossas instituições e o
insuportável vazio de Brasília.
La creme de la creme, a nata dos pacientes que sem recorrer ao SUS sobreviveram a cirurgias, safenas, dietas, lipos, liftings
etc., etc., desfilando numa passarela e exibindo orgulhosamente suas
radiografias e ultrassonografias para comprovar os respectivos milagres.
Os que não sobreviveram, apesar do atendimento de primeiro mundo,
pediram desculpas pela ausência por força maior e/ou foram atendidos
pelo médium-curandeiro João de Deus, um dos mais assediados da festa
(segundo informam os repórteres Alecsandra Zapparoli e Daniel
Bergamasco).
Alguns celulares desapareceram, felizmente desativados. Ninguém foi
revistado. A turma da Lava Jato descansa num resort de Curitiba. Em
compensação, as más línguas estiveram ativíssimas durante toda a noite e
por meio delas soube-se de novidades que o Jornal das Dez da
Globonews jamais poderia apresentar. João de Deus garantia aos presentes
e ausentes que tem mais pacientes do que os nubentes juntos, não raro é
visto nas salas de cirurgia e consultórios brandindo um bisturi, just in case.
A histórica festança custou a bagatela de 1 milhão de reais, porém
valeu. Exibe a pujança da nossa medicina e a nossa capacidade de
dispensar os médicos cubanos, únicos responsáveis pela epidemia de
dengue.
Saravá.
