ALCYR CAVALCANTI -
Existe um crime organizado, alguns são presos e outros não.
O Estado tem interesse em organizar o crime
Não é o crime que se organiza a si mesmo
Padre André Hombrados, 2008
Muito se fala em "crime organizado", mas no Rio de Janeiro quando
analisamos sua face mais visível o narcotráfico, o que parece acontecer é
uma grande desorganização no chamado mundo do crime, acirrado pela
disputa dos pontos de venda de drogas, a varejo, e consequente domínio
territorial. Amigos de hoje, inimigos de amanhã, conforme interesses
eventuais, onde alianças são formadas e se desfazem com rapidez. É um
salve-se quem puder visando somente as altas taxas de lucro resultantes
da venda das "mercadorias do prazer". As disputas acontecem não só entre
a maiores redes associativas Comando Vermelho, Terceiro Comando e Amigos dos Amigos, mas
em algumas ocasiões dentro das próprias redes, onde as dissidências são
formadas, fazendo lembrar alguns grupelhos de uma falsa esquerda. O
espírito de solidariedade frente às condições sub humanas que motivou a
criação da Falange Vermelha não mais existe, apenas
uma corrida desenfreada pelas altas taxas de lucro uma
verdadeira "indústria do crime". De uns anos até os dias de hoje houve
um crescimento de grupos chamados Milícias, formados por policiais,
ex-policiais, bombeiros agindo à margem da lei e cobrando taxas de
proteção. Quem não pagar é sentenciado à expulsão de sua comunidade, ou
mesmo à morte como castigo exemplar.
O narcotráfico é um fenômeno mundial. A ONU realizou em 1999 uma reunião
para analisar e apresentar soluções para enfrentar o aumento dos níveis
de criminalidade em todos os continentes, a "globalização do mal". O
encontro foi em Palermo, na Itália onde especialistas de todo o mundo se
reuniram na Convenção das Nações Unidas Contra o Crime Organizado, mais
conhecida como Convenção de Palermo. No Brasil as normas foram
adotadas em forma de decreto lei de março de 2004. No Rio de Janeiro, a
política adotada é a repressão como finalidade absoluta e não como um
meio para trazer a paz e a justiça social, ampliando os cinturões de
segurança para dar aparente tranquilidade, em tempos de Copa do Mundo e
Jogos Olímpicos.
