IGOR MENDES -
Recebi com intensa indignação os informes a respeito da
agressão vil, covarde e torpemente orquestrada pela DIREÇÃO DO PSTU contra uma
reunião da comissão de cultura da FIP-RJ. Li enojado as notas daquela
agremiação sindical-eleitoreira (não pensem que seja exatamente uma tarefa
fácil fazer esses documentos chegarem às minhas mãos, porque não estou de
férias num spa, mas num presídio de
segurança máxima), e não sem alguma surpresa vi que, em meio a calúnias de toda
ordem, misturando uma visão deturpada da história com fatos referentes a uma
assembleia estudantil na UERJ, admitem que sim, houve a agressão contra nossos
companheiros e companheiras. Esse é o dado fundamental. Uma reunião do
movimento popular foi invadida, na calada da noite – sempre os criminosos optam
por cometer suas ações infames diante do menor número possível de testemunhas –
e seis pessoas, repito, seis pessoas, foram cercadas e agredidas por cinquenta
esbirros que premeditaram uma emboscada. Os “campeões” do combate ao machismo
agrediram companheiras nossas – e, fato monstruoso – um professor, Tiago
Hastenreiter, figura que conheço desde a época em que eu era secundarista,
agrediu sua aluna, uma menina, a nossa querida e valente Ludmila.
Calar-se diante disso, por conchavos de qualquer espécie,
é tão imoral como calar-se diante da perseguição política, que já chegou ao
nível de longos encarceramentos, movida pelo Estado e pela gerência PT/PMDB
(nas esferas nacional e estadual) contra os lutadores. Silenciar diante de
fatos tão graves é como dizer mil palavras, passando com armas e bagagens para
o campo da reação.
Nós que somos militantes sabemos que cinquenta pessoas
de uma mesma organização, muitas delas dirigentes, não se reuniram e tomaram
uma atitude canalha como está por impulso, sabiam perfeitamente com quem
estavam mexendo, em que momento (temos companheiros presos, na clandestinidade,
e um julgamento de exceção chegando à fase das sentenças), e quais seriam as
consequências – quando menos, a repercussão imensa do episódio. Trata-se, a todas
as luzes, de ação orquestrada, que contou no mínimo com aval da Direção
Nacional desse partido. Que, com essa atitude criminosa, acrescentou mais um
capítulo à sua triste história de traições à classe operária e ao povo
brasileiro.
Fico me perguntando a que tradições tanto se remetem:
seria terem ajudado a criar o lulismo, erguendo com ele e sua turma o “novo
sindicalismo” de pelegos e mafiosos que moldou o que é hoje esse torpe
movimento sindical-estatal que temos? Estarem aí há vinte anos pedindo votos
sem qualquer êxito, minguando ano após ano? Terem sido rechaçados pelo maior
movimento de massas das últimas décadas do Brasil, as jornadas de junho,
classificando de “fascista” a juventude combatente ao mesmo tempo em que
mendigava uma “unidade” com o mesmo PT que mandava exército e força nacional
descer o porrete nas manifestações? Terem ido para casa durante a Copa do
mundo, traindo a si mesmos, quando prometeram que “na Copa haveria Luta” (vi
com meus próprios olhos como sabotaram vergonhosamente a greve dos rodoviários,
encaminhando-a para uma derrota)? Alguém deve lembra-los que a história
política do Brasil não começou com a fundação do PT (já contava então nosso
proletariado com um século de lutas), e que quando eles começaram a ganhar
alguma expressão todos os direitos trabalhistas fundamentais – os mesmos que o
PT ora ataca – já estavam conquistados.
Bem, isso para falar de Brasil. Na arena mundial
desconheço que tenham tido qualquer participação digna de menção na onda de
revoluções e lutas de libertação nacional que estremeceram o século XX. Ah,
claro, além de terem traído os mineiros na Bolívia, na década de 1950, e os
trabalhadores do que é hoje o Sri Lanka, se não me falha a memória...
Desculpem a digressão, a indignação me impede de ser
mais conciso, e em todo caso a história não é coisa com a qual se possa
brincar, nem distorcer tão vilmente, como essa gente faz. Aqui cabe ressaltar
que trata, o Pstu, de confundir a FIP-RJ com o MEPR. Acusam o MEPR no qual
milito, aliás, de sectário, mas essa forma de tratar a questão é bem
esclarecedora da maneira como age o próprio Pstu. Acham que a FIP é uma frente
como a Anel, ou a Conlutas, que todos sabem ser meros transmissores do Pstu, e
por isso eternamente condenados ao isolamento. Sabemos que, no interior desses
espaços, atua o Pstu com métodos típicos do PC do B na UNE, com rodos, manobras
e subterfúgios, longamente relatados por organizações que neles conviveram e
por próprios ex-militantes desse partido, que volta e meia rompem escrevendo
cartas públicas. Esclareço-os que a FIP-RJ não é assim. E se não acreditam nas
minhas palavras, olhem a heterogeneidade política e ideológica dos 23
processados políticos da Copa, que expressa o vasto campo político que não se
acovardou diante das jornadas de junho. Mas entendo, em parte, sua confusão:
olhando desde fora, como expectadores, é difícil ter um amplo domínio dos
acontecimentos...
Por fim, a velha história do suposto “atentado” (embora
ridículo, foi o termo que usaram à época) à sua sede. Não vou repetir o que já
foi tão longamente dito, como o fato deles próprios saberem que nenhum
militante do MEPR e da FIP lá esteve (como vimos nas notas, eles conhecem
nossos nomes e sobrenomes), e sua atitude de registrar queixa na polícia, o que
consta nos autos do nosso processo. Vou lembrar um episódio do qual participei.
No dia 13/09/2014 o Fórum de Saúde do Rio de Janeiro organizou, na UERJ, um
grande debate a respeito das eleições, com a presença dos candidatos a
governador pelo PCB, PSOL e Pstu, e mais a FIP-RJ, defendendo o boicote, a qual
tive a tremenda responsabilidade de representar. Nessa ocasião – centenas de
pessoas são testemunhas – cobrei à candidata Deise Oliveira, do Pstu,
publicamente, uma posição a respeito do episódio. Creio que, entre pessoas civilizadas,
nada pode ser mais esclarecedor que um debate franco, às claras. Qual resposta
obtive, então? O silêncio...
Mentiras e acusações só podem sustentar-se, realmente,
pela repetição, jamais resistem ao confronto cristalino com a verdade. Cabe
aqui, aliás, uma reflexão de puro bom-senso: daquele episódio resultou uma
vidraça quebrada; do ataque covarde na UERJ, companheiras e companheiros (que,
apesar da desproporção, resistiram bravamente) foram hospitalizados. Uma vez
mais e conclusivamente, sob qualquer ângulo que se queira olhar, impõe-se uma
única sentença: o que ocorreu no dia 16/04 na UERJ é injustificável,
inaceitável, abominável.
Nos que temos encarado com altivez e dignidade de
revolucionários as arbitrariedades policiais, espancamentos, perseguições,
espionagem, prisões e julgamentos, sem nos abater, saberemos dar a resposta
política que esses obscuros acontecimentos merecem.
SOCIAIS-POLICIAIS, BANDOS FASCISTAS TRAVESTIDOS DE
MILITANTES: NÃO PASSARÃO!
VIVA A FRENTE INDEPENDENTE POPULAR E O MEPR!
VIVA A JUVENTUDE COMBATENTE!
REBELAR-SE É JUSTO!
OUSAR LUTAR, OUSAR VENCER!
Rio, 24/04/2015 – 142º Dia de Detenção.
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NOTA DO EDITOR – ENDEREÇO PARA ENVIO DE CARTAS AO ATIVISTA E COLUNISTA. Informo a todas(os) apoiadores da 'Campanha pela Liberdade de Igor
Mendes e Todos os Presos Políticos' o endereço para envio de cartas de
saudações, apoio e solidariedade ao IGOR MENDES, exemplo de
resistência e luta desde os cárceres deste velho Estado.
ENDEREÇO: Cadeia pública Bandeira Stampa
Estrada General Emílio Maurell Filho, S/ Nº
BAIRRO: Bangu
CIDADE: Rio de Janeiro - RJ
CEP: 21.854-010
PARA IGOR MENDES
BAIRRO: Bangu
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CEP: 21.854-010
PARA IGOR MENDES
Defendo a extinção imediata de todos
os processos e o cancelamento das condenações! (D.M.)
