CARLOS CHAGAS -
À medida em que vão sendo revelados os sucessivos episódios da roubalheira verificada em entidades do governo e da iniciativa privada, à sombra da Operação Lava Jato e sucedâneos, com a exposição de políticos e empresários variados, a conclusão é de que dos relacionados não deveria sobra nenhum, ou sobrarão muito poucos. Pelos cálculos feitos até agora pelo Ministério Público, a Polícia Federal e a Justiça, já são mais de duzentos os bandidos, estes reconhecendo a própria culpa, aqueles emergindo das investigações e processos mais ou menos avançados. Alguns comprovadamente envolvidos, condenados ou em vias de tanto. Estes já postos na cadeia, outros a caminho.
A vergonha atinge o país inteiro. Não escapam nomes ilustres.
A pergunta que se faz é sobre quantos escaparão. Porque tentando, todos estão, apelando para as delações premiadas, as amizades de sempre, as chicanas e os advogados abertos ao faturamento variado.
Jamais a corrupção alcançou níveis tão altos. Pelo menos, a impunidade começa a ser atingida e denunciada. Indaga-se a respeito de sua extensão. Muitos vão saltar de banda. Mesmo assim, parte dos corruptos vem sendo arcabuzada, evidência de que o Brasil progride.
Não haverá, portanto, que desistir. Preferível parece imaginar o dia seguinte melhor do que a véspera.
Para Dilma Rousseff, seria preferível a hora do silêncio
Divulgada ontem, a entrevista de Dilma Rousseff concedida à “Folha de S. Paulo” na quarta-feira da semana passada deixou claro que Madame não vai bem. De ex-presidentes, ou quase isso, só Jânio Quadros deu tantas provas de desequilíbrio. Ela declarou que “o partido de Temer pretendia, ao assumir o governo, barrar a Operação Lava Jato”. Mais ainda: que Romero Jucá tentou delimitar as investigações. Incluiu Renan Calheiros na trama, esquecendo-se que 367 deputados e 55 senadores votaram as preliminares de seu impeachment. Negou haver cometido crime de responsabilidade e prometeu retornar ao poder, porque vários senadores que votaram pela seu afastamento apenas admitiram a admissibilidade da iniciativa.
Estaria a já quase ex-presidenta dissociada de suas faculdades? Primeiro, por haver desaprendido as quatro operações; depois, por não saber chorar, como se vangloria. Melhor teria feito se ficasse restrita às suas bicicletas, poupando críticas e diatribes ao Congresso e aos políticos dos quais se tornou desafeto. Em especial Michel Temer, que age no sentido oposto. Até agora não acusou a antecessora por traição.
Aguarda-se a defesa de Madame, em elaboração pelo seu antigo ministro da Justiça. Caso insista na tese de haver sido apunhalada pelas costas, arrisca-se até a perder mais senadores, no confronto final. É precisamente o que deseja o novo governo. Fica evidente que mais entrevistas significarão menos chances de retornar. Quase nulas. A hora, para a presidente afastada, seria de silêncio ostensivo. Entrevistas, só com senadores propensos a mudar de voto. Dois ou três bastariam…



