Por WILL GRANT - Via BBC Brasil -
A visita do presidente de Cuba, Raúl Castro, ao Vaticano, a convite do papa Francisco é uma nova vitória pessoal do pontífice.
O fato de o homem que ajudou a liderar a Revolução Cubana ter até
brincado sobre retornar à Igreja Católica mostra quanto as relações
entre Havana e a Santa Sé avançaram recentemente.
Essa mudança de
posicionamento só foi possível, contudo, durante o pontificado de
Francisco. Primeiro, o pontífice desempenhou um papel crucial em
suavizar o caminho para a retomada das negociações entre Cuba e Estados
Unidos nos últimos 18 meses.
Segundo, ele deu a sua benção ao
processo e ao governo de Cuba ao se programar para visitar a ilha em
setembro antes de sua viagem aos Estados Unidos.
Como um
latino-americano, Francisco sempre manteve bons laços com líderes
latino-americanos tanto de direita quanto de esquerda. Por várias vezes,
ele pediu pelo fim do embargo comercial dos Estados Unidos contra Cuba,
por exemplo.
Agora, ele recebeu ─ e cortejou ─ Raúl Castro em
Roma, fortalecendo essa relação ainda mais. Mais surpreendente do que
isso só se o presidente cubano voltar a frequentar missas.
Mas o
jornal estatal Granma omitiu os comentários de Castro sobre voltar à
Igreja quando noticiou o encontro, em sua edição eletrônica.
Uma reflexão, talvez, de quão inusitado é para os cubanos ouvir Castro fazer tais comentários, sejam eles irônicos ou não.
Encontro
No encontro, ocorrido a
portas fechadas no Vaticano, Castro elogiou a sabedoria do pontífice:
"Eu vou recomeçar a rezar e voltar à Igreja se o papa continuar por esse
caminho", disse o presidente cubano.
Ele agradeceu ao pontífice por mediar a reaproximação entre Cuba e os Estados Unidos.
Castro
viajou ao Vaticano após ter participado das comemorações russas do Dia
da Vitória na Segunda Guerra Mundial, na capital Moscou.
No encontro, ficou decidido que Francisco visitará a ilha em setembro, antes de sua viagem oficial aos Estados Unidos.
'Conquista diplomática'
Para o
pontífice, a restauração das relações entre Estados Unidos e Cuba ─
realizada em conversas secretas no Vaticano ─ foi uma grande conquista
diplomática, informou o correspondente da BBC em Roma, David Willey.
Os
Estados Unidos impuseram um embargo comercial à ilha após a Revolução
Cubana que só começou a ser suspenso no fim do ano passado, após mais de
50 anos.
O encontro entre Castro e Francisco durou cerca de 50 minutos ao fim do qual o presidente cubano conversou com repórteres.
"O pontífice é um jesuíta, e eu, de certa forma, sou também. Estudei em escolas jesuítas", disse ele.
Depois de sugerir que voltaria a professar a fé católica, ele acrescentou: "Eu quero dizer o que disse".
Tanto
Castro quanto seu irmão, o ex-líder cubano Fidel Castro, foram
batizados como católicos, mas muitas das atividades da Igreja foram
suprimidas depois da revolução.
Francisco será o terceiro papa a visitar Cuba, depois de João Paulo 2º, em 1998, e Bento 16, em 2012.
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