INFORMAÇÃO LIVRE

5.5.15

RELATÓRIO DENUNCIA VIOLAÇÕES A PROFISSIONAIS DA IMPRENSA E DEFENSORES DE DIREITOS HUMANOS

Via Brasil de Fato -

No total, foram registrados 55 casos de violação à liberdade de expressão em 2014, um aumento de 15% em relação a 2013, quando foram registrados 45 casos.


A organização ARTIGO 19 lançou neste domingo (3), considerado Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, o relatório Violações à Liberdade de Expressão – Relatório Anual 2014”, resultado de um processo de monitoramento e apuração das violações ocorridas no Brasil contra a liberdade de expressão durante o ano passado.

O documento contabiliza e analisa os casos de graves violações, como homicídios, tentativas de assassinato, ameaças de morte e tortura ocorridos contra comunicadores (jornalistas, radialistas, blogueiros) e defensores de direitos humanos (lideranças rurais, quilombolas, sindicalistas, integrantes de associações).
No total, foram registrados 55 casos de violação à liberdade de expressão em 2014, um aumento de 15% em relação a 2013, quando foram registrados 45 casos. Destes, 15 foram homicídios, 11 foram tentativas de assassinatos, 28 foram ameaças de morte e 1 deles, tortura.

Em todos os casos, as pessoas foram vítimas de violação em função de atividades ligadas à liberdade de expressão – como a publicação de uma matéria, a mobilização de uma comunidade ou a organização de uma manifestação.

“Um material que agregue os dados relacionados às violações é importante para mostrar que esses crimes não ocorrem de maneira isolada, mas que sim representam violações sistemáticas com a intenção de impedir a discussão sobre alguns temas na nossa sociedade”, afirma Júlia Lima, oficial da ARTIGO 19 para o programa de Proteção da Liberdade de Expressão. 

Violência no Campo 

O relatório dedica um capítulo para analisar as violações à liberdade de expressão nos conflitos no campo.

“Os conflitos por terra são a principal causa de violações à liberdade de expressão de defensores de direitos humanos no país. Em 2014, foram 23 vítimas de graves violações ligadas a conflitos de terra (entre lideranças rurais, indígenas e quilombolas)”, diz o documento.

Segundo dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT), este número aumentou: em 2013, foram dez vítimas e em 2012, onze.

“Os dados mostram que a maior parte das violações é realizada por agentes privados, especialmente fazendeiros e grileiros, que querem garantir seu domínio econômico sobre o território. (…) Nesse cenário de imposição generalizada da força sobre direitos, qualquer ativista que se destaque na luta pela terra — e exerça a o direito à liberdade de expressão para tal — poderá ser vítima da violência, como mostram os casos apresentados neste relatório. Enquanto essa situação de desigualdade e brutalidade não for enfrentada, o pleno direito à liberdade de expressão desses defensores também não será garantido”, defende o relatório. 

Violência contra mulher 

Segundo o relatório, dos 21 casos de graves violações ocorridos com comunicadores em 2014, seis ocorreram com mulheres, o que corresponde a 28,5% dos casos. As comunicadoras foram vítimas de ameaça de morte em quatro casos e sofreram tentativas de assassinato em dois casos.

A ARTIGO 19 afirma que a violência contra a mulher, no entanto, é muito maior do que aparece nos dados coletados. Um estudo realizado pela Women in the Media Foundation em 2013 com 1000 mulheres de todo mundo indicou que 2/3 das profissionais de mídia haviam sofrido algum tipo de violência. Toques desnecessários, e-mails e mensagens de texto com tons pessoais não desejados, comentários sexuais, entre outras, são formas habituais de abuso.

Destas, a maioria não reporta as intimidações às autoridades por medo de represálias, de perder o emprego, de serem vistas como fracas e não talhadas para o trabalho profissional. Além disso, nos poucos casos que são registrados, muitas mulheres reclamam da forma como suas denuncias são recebidas: com descaso, como se fossem exageros ou resultado de histeria.

A maioria dos casos ocorreram no ambiente de trabalho e haviam sido perpetradas por chefes ou colegas. Ou seja, diferente das violações que tem origem na cobertura das matérias e nas investigações jornalísticas, muito da violência contra as mulheres ocorre dentro das redações. 

Soluções 

O relatório termina com uma série de recomendações ao Estado Brasileiro para evitar que a violência à liberdade de expressão e seus autores continuem.

Entre elas estão a criação de um observatório público de crimes contra comunicadores e defensores dos direitos humanos; Desenvolver de forma constante estudos que visem identificar as causas e os focos principais da violência contra comunicadores e defensores dos direitos humanos no Brasil e ampliar o número de autoridades que podem solicitar a federalização das investigações de crimes contra direitos humanos.

“Ao analisarmos os aspectos comuns entre essas ocorrências, como os perfis dos supostos autores envolvidos, podemos abordar a questão de maneira mais ampla e cobrar do Estado não só a resolução dos casos incluídos no relatório, mas também a elaboração de políticas públicas preventivas”, conclui Juliana Lima, da ARTIGO 19.