Por EMIR SADER - Via Carta Maior -
O shopping-center é a utopia neoliberal, o resumo de como eles gostariam que fosse a sociedade: só consumidores, nenhum cidadão.
Depois de fazer aprovar uma série de
iniciativas na Câmara, Eduardo Cunha se sente dono da Casa e capaz de
passar qualquer proposta. Já há algum tempo, antes que estivesse
envolvido na Lava-Jato, ele tinha decretado a concessão de passagens de
avião para as esposas dos deputados. Diante da reação negativa
generalizada a mais esse privilegio dos parlamentares, Eduardo Cunha
teve que recuar e a suspendeu.
Agora
ele volta à carta com uma medida ainda mais despropositada: a
construção, por um valor calculado de um bilhão de reais, de um shopping
center na Câmara de Deputados. A aprovação foi rápida, com a oposição
apenas do PT, do PC do B, do Psol e do PDT.
Nada
mais simbólico do que instalar um shopping-center em um Congresso
eleito pelo poder do dinheiro, controlado pelos lobbies dos grandes
negócios. O shopping-center é a utopia neoliberal, o resumo de como eles
gostariam que fosse a sociedade: só consumidores comprando mercadorias
das grandes marcar globalizadas. Um mundo em que tudo é mercadoria, tudo
tem preço, tudo se vende, tudo se compra.
O
shopping-center da Câmara – se chegar a ser instalado, com todas as
dúvidas que pairam sobre que se tolere que exista – representa a
continuidade, sob a forma de lojas, de grifes, - do toma-cá-dá-lá que
impera no Congresso e de que Eduardo Cunho é o grande gerente. Se
decide, se vota, de aprova, como quem entra em uma loja de uma grande
marca globalizada e se arrematam mercadorias. Se paga com cartões de
crédito, se pechincha os preços, se aproveitam liquidações. Eduardo
Cunha pretende instaurar uma continuidade linear entre o plenário sob
sua presidência e o desfile de marcas e suas ofertas.
O
Cunha-shopping é um acinte. É a demonstração de que o presidente da
Câmara pretende fazer o que pretenda dessa Casa, rebaixando-a a níveis
como nunca haviam sido atingidos, fazendo com que chegue a um nível tal
de degradação, de que o próximo passo seria instaurar um cassino, com
roleta e tudo. No Shopping desaparece tudo o que é local, substituído
pelas marcas globalizadas. No Shopping não se encontram pobres,
cidadãos, apenas consumidores com grande poder aquisitivo.
Os
Shopping não costumam ter janelas, para fechar-se sobre si mesmos,
fazendo abstração da sociedade real que fica do lado de fora. O Shopping
é todo feito em função da compra e da venda, a circulação por seus
espaços é adaptada a isso.
O
Congresso parece espelhar nos Shopping-Centers o seu funcionamento
atual. Atende os grandes interesses econômicos, privilegia o
anti-nacional, faz abstração da sociedade real, se fecha sobre si mesmo,
sem janelas para o mundo real. Só pretende responder às grandes marcas,
às grandes empresas, aos interesses globalizados.
Mas
entre tantas incertezas sobre o que passará no Congresso, esta é a
maior delas. Apesar de aprovada na Câmara, a construção do
Shopping-Center ainda vai ter que passar por várias provas. A primeira, a
rejeição da opinião pública. Isso aconteceu com as passagens para as
esposas dos deputados, sobre o que Eduardo Cunha teve que retroceder.
Caso
passe por esse primeiro obstáculo, virão os outros: construção,
inauguração e aí, caso chegue até esse momento, o maios obstáculo: o
funcionamento. Vai ser objeto do repúdio da cidadania, do boicote, dos
rolezinhos, das ocupações, das manifestações, até torná-lo inviável.
O
Cunha-Shopping seria mais um passo no processo de mercantilização do
Congresso, de gastos indevidos e acintosos em relação ao momento que
vive o pais. Não passará.
